quinta-feira, 28 de abril de 2016

Oito meses e quatro dias depois...

É curioso como ainda por estes dias pensava na Carla. Relembrava aquele seu texto em que que dizia que, apesar da impossibilidade, por vezes, quase acreditava estar a ver o seu pai, e em que eu comentei que me acontecia precisamente o mesmo, apesar no meu caso, a pessoa não me ter morrido fisicamente.
E também eu converso muitas vezes com aquela mulher que voou para muito longe dos meus braços. Já me aconteceu ir a conduzir, olhar para o banco ao lado e vê-la ali, a olhar para mim. Muitas vezes até tenho conversas parvas com ela, e imagino o riso dela tão caraterístico, e depois também rimos os dois. Acho que na verdade nunca encontrei mulher que me achasse tanta graça como ela. “Tu és demais” dizia-me constantemente, e apesar de eu achar que sim, que tenho sentido de humor, mas não posso ter tanta graça assim.
Também muitas vezes escrevo sobre ela. Acho que primeiro de tudo, para eu mesmo acreditar, que o que vivi com aquela pessoa, naquele curto período do tempo, aconteceu mesmo, e não é tudo da minha cabeça. E depois porque para mim acaba por ser terapêutico.
A dor da perda nunca é fácil, e não é pelo menos para aqueles que como eu se ligam às pessoas de quem gostam. “Não é que isso seja mau, mas tu apegas-te demais às pessoas e depois é tudo muito mais complicado” disseram-me. Mas para mim não há outra forma de viver que não seja aquela de nos entregarmos aquelas tão poucas pessoas com quem na vida criaremos fortes laços de amizade ou de amor.
E depois eu provavelmente devo fazer tudo ao contrário do que os livros de auto-ajuda e os psicólogos dizem que se deve ou não fazer. Até do que os amigos me dizem. Mas cada um sente e faz o luto à sua maneira e procede da forma que acha melhor para si. É que, em pessoas diferentes, nem sempre o mesmo medicamento resulta de igual forma.
E tudo isto para lhe dizer que, por estes dias pensava na Carla, porque gostaria de lhe dizer que, se tudo correr bem, daqui por algumas horas – oito meses e quatro dias depois – irei mesmo ver esta mulher, e irei até tê-la de novo nos braços, mas só durante o tempo que durar o abraço apertado que certamente iremos dar.
Sabe Carla, apesar da dor de já não podermos ter aquela pessoa da forma que gostaríamos, eu acho que nós só perdemos mesmo as pessoas que amamos, quando elas se esquecerem definitivamente de nós, quando deixarem de se preocupar connosco ou deixarem de nos querer bem.

(Na sequência de Vejo-te mas nunca és tu)

4 comentários:

  1. Que tudo corra pelo melhor senhor Konigvs. Muita sorte :)
    SF

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    1. Olá SF! Fico muito contente por saber que ainda anda por cá anda a ler-me. Na verdade, e no que ao texto diz respeito (que foi um comentário em resposta a um outro post num outro blogue) eu acho que as coisas até correram muito bem... apesar de, se dependesse de mim, eu preferiria que tivessem tomado um rumo bem diferente. Mas nós nunca sabemos o que está certo ou errado, ou se seriam melhores ou piores se outro rumo tivesse sido trilhado. E na vida não podemos entrar em modo pausa para ficarmos bem connosco mesmos. Os dias continuam a passar, uns atrás dos outros, quer queiramos quer não.
      Obrigado pelos votos. A si espero que esteja tudo bem, e desejo-lhe em dobro o que me deseja a mim :)

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  2. realmente depois de ler alguns de seus posts fantásticos, vejo a sua admirável empatia com as pessoas...

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    1. Obrigado pelas tuas palavras Gabriela, mas são só pequenos nadas da minha vida... fases que por vezes deixam este blogue um pouco mais multi-lamechas...

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