sábado, 27 de junho de 2015

Simplesmente a ficar mais velhos

Os dias vão passando, os meses vão passando, os anos vão passando. Subitamente olhamos de relance para o espelho e "mas estarei a ver bem"? Assim de relance parece que os cabelos loiros e castanhos, vão tomando uma tonalidade acinzentada. E nesta corrida acelerada de todos os dias, quase nem temos tempo para nos dar conta que estamos a envelhecer.... 

E eu estou em crer que só nos damos mesmo conta do quanto envelhecemos, quando encontramos alguém que já não víamos há muitos anos. "Como ele está velho" penso. E isto provavelmente é o que pensam de nós, apesar de mantermos o mesmo número das calças que tínhamos aos vinte anos, de não estarmos carecas, bem pelo contrário, nem termos uma barriga de quem parece estar grávido de sete meses. Quase ninguém acredita quando dizemos a idade que temos. Na CP perguntam-nos se temos menos de vinte e cinco anos, e até quem nos conhece recentemente e vê fotografias nossas antigas, nos dizem que estamos exatamente igual a quando tínhamos vinte anos. Pois pois! Agradecemos o elogio, mas no fundo sabemos que não é bem assim. 

Mas as coisas vão mudando aos poucos, e não é só no número de cabelos brancos. De repente parece que entramos numa segunda puberdade. Se depois dos dez anos nos começam a aparecer os pêlos nos genitais, axilas e uma penugem na cara, depois dos trinta começamos a reparar em pêlos em sítios onde antes lá não estavam, ou então os pêlos do nariz que teimam em crescer para fora do seu lugar!

Também com o tempo a nossa perceção das coisas vai-se modificando. Quando corríamos e jogávamos à bola no recreio da escola primária, aquilo parecia-nos um imenso espaço que nunca mais acabava. Muitos anos depois, vamos lá à mesma escola votar, e descobrimos que aquele imenso espaço encolheu, pois parece muitíssimo mais pequeno. Mas não, o espaço é o mesmo, nós é que ficamos maiores. 



E começamos a olhar em volta e ver o mundo com outros olhos. De repente aquela gente das universidades, que quando éramos miúdos achávamos muito adultos e misteriosos debaixo daquelas vestes negras, passamos a olhar para eles, como uma uma espécie de criancinhas do infantário, simplesmente a fazer das ruas recreio, gente já de maior idade mas que insistem em passar por criancinhas em corpos de adultos.

De repente passamos a saber coisas que o pessoal de vinte anos não sabe, não passou por essas vivências, não faz a mais pequena ideia do que estamos a falar. 

Outra vezes ficamos muito surpreendidos, como é possível que agora as crianças também conduzam? Será que a lei mudou e não sabemos? Uma e outra pessoa que não parecem ter mais de quinze anos passam por nós a conduzir carros, muitas vezes grandes máquinas até!

De repente dou conta que começo também a reparar em mulheres com idades que não reparava antes. Se antes até reparava em adolescentes já com corpinho jeitoso para apanharem umas boas palmadas, subitamente as mulheres da minha faixa etária, mesmo que por vezes acompanhadas de filhos crescidos pela mão, passam a entrar no nosso radar. E a modelo da moda, que aparece todos os dias na capa do jornal-escarro-mais-lido-do-país, parece-nos uma criança, mal acabada de desmamar a brincar às poses provocantes.  

Nós não estamos a mudar, estamos simplesmente a ficar mais velhos.

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