sábado, 21 de julho de 2018

Filhos dum Deus Incógnito

Sempre que eu respondo que a minha visão de Deus é a mesma que a de Alberto Caeiro (heterónimo de Fernando Pessoa), recebo sempre, por parte dos partidários (para não dizer fanáticos) da crença religiosa a mesma resposta, o mesmo argumento que não tem ponta por onde se lhe pegue, e voltou a acontecer esta semana:

Mas tu achas que és assim tão importante para Deus vir falar contigo?

Mas que raio de argumento é esse? Se tivessem tido um pai que emprenhou a vossa mãe (ainda que pelos ouvidos!) que cagou literalmente em vocês, que vos deixou sozinhos no mundo, continuariam a adorá-lo e achar que é um Deus todo poderoso que quer o vosso bem? Eu gosto de discutir ideias, mas há que ser minimamente razoável e este argumento é tudo menos racional! É assim que vêem os vossos pais? São sempre os melhores mesmo se vos abandonarem à vossa sorte?

O que eu acho é que Pai não é aquele que faz e deixa abandonado no mundo à sua sorte. Pai é aquele que cuida, aquele que se preocupa. Nem sequer é preciso ser pai para saber isso. Eu não sou pai e preocupo-me com as pessoas de quem gosto. E um pai que faz, mas que deixa ao abandono, e que nem sequer se digna a mostrar-se e a dizer quem é, então vão-me perdoar mas não é um bom pai.

E não é arrogância achar que Deus deveria vir falar comigo porque eu não me acho melhor que ninguém. É simplesmente uma questão de justiça.



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