domingo, 21 de janeiro de 2018

Anda Tudo Muito Desconsoladinho

Esta semana, ali a dois passos da Torres dos Clérigos no Porto, a propósito da arte do pizaiolo napolitano ter sido reconhecida como Património Cultural e Imaterial da Humidade, decidiram confecionar e oferecer fatias de pizza a quem por ali passasse. Mas eu não pude deixar de ficar boquiaberto quando a minha colega de trabalho me diz que uma amiga dela partilhou no Instagram - parece que já ninguém usa o Facebook não é? (gargalhada maléfica!) - e que ela escreveu que já ali estava há mais de uma hora para poder dar duas trincas numa pequenina fatia de pizza. Vou repetir para melhor interiorizar: esperar mais de uma hora para dar duas trincas numa fatia de pizza!

O que é que move esta gente? Há qualquer coisa que se passa nos cérebros humanos, eu não sei bem o que é mas certamente que a psicologia deve explicar, que mal as pessoas ouvem a palavra saldo, promoção, rebaixa ou "dá-se" que como que ficam todos paralisados e hipnotizados. Isto até seria um teste interessante: qual seria o máximo tempo que alguém estaria disposto a estar ali, de pé, em pleno frio de Inverno, a esperar, salivando, pelas suas duas trincas numa fatia de pizza? Duas horas? Três horas? Até desfalecerem e caírem para o lado?

Mas eu sei muito bem o que isto é, pois, certa vez, coloquei um anúncio em que oferecia algumas plantas, visto que tenho muitas e precisava libertar espaço. E então pude constatar que, para comprarem, mesmo que seja a um preço muito barato 'tá quieto! Mas mal eu decidi colocar "Oferece-se", apareceram-me pessoas, que fizeram não sei quantas dezenas de quilómetros só para poderem levar para casa uma planta que valia menos que o dinheiro que gastaram na deslocação. 

Por algo gratuito há pessoas que vão até ao fim do mundo se for preciso! Isto é mais ou menos como aquele pessoal que é capaz de fazer dez quilómetros de carro só para poder abastecer o depósito de combustível cinco cêntimos por litro mais barato, não tendo em conta o gasto que tiveram na deslocação, muitas vezes tendo até de estar meia hora à espera para abastecer, nem fazendo as contas que com o combustível que abasteceram (menos limpo) dificilmente vão fazer tantos quilómetros como se se tivessem abastecido um combustível aditivado.

Mas depois ainda há outra questão. Estamos ainda a meio de Janeiro (e ontem na Loja do Cidadão ainda ouvia alguém a desejar "Bom Ano!" - até quando mesmo é que se pode desejar um bom ano? Até quê, 30 de Dezembro?) e ainda há menos de um mês as pessoas empanturraram-se com a consoada de Natal, com o almoço do Dia de Natal, com a consoada do jantar de fim de ano, com o almoço do primeiro dia do ano, com a consoada dos reis e com todos os dias seguintes a comer restos e mais restos de quinhentos mil doces diferentes, mas mesmo assim, ainda há gente disposta a esperar mais de uma hora numa bicha, para dar duas trincas numa pequena fatia de pizza! Parece que anda tudo desconsoladinho.

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