quinta-feira, 30 de novembro de 2017

Tão Bom que era o Patrão Belmiro

Agora que o Belmiro de Azevedo morreu, ouvem-se tantos elogios ao empresário-modelo, que pagava salários miseráveis, que quase fico comovido. Passemos os olhos em alguns testemunhos de quem trabalhou nas suas empresas e que certamente só boas coisas terá a dizer:


Sair a horas é impossível

O ordenado é a mesma miséria, 3€ à hora e é se quero, senão põem outra pessoa no meu lugar, de momento não tenho outra hipótese senão continuar

Trabalho há vários anos na Worten, sou permanência de loja, sou responsável de uma secção, trabalho a tempo inteiro e recebo 3€/hora

Trabalho num Continente-Modelo e subscrevo tudo que foi dito anteriormente, despediram metade dos meus colegas e faço o turno da noite sozinha, querem que faça sozinha o trabalho que faziam 3 pessoas. Devia sair às 22h mas nunca saía a horas, saía quase sempre às 23h. Relativamente às horas a mais nunca me foram pagas nem nunca foram gozadas

Quanto aos contratos é verdade 3 e rua…uma vergonha

Trabalhei em lojas da Sonae em que chegava a trabalhar 10 dias seguidos, com uma folga por semana ou então umas cinco horas sem ir comer ou à casa de banho por me encontrar sozinha em loja

Vendo o meu trabalho há 23 anos como Operadora de Caixa num Hipermecado do Grupo Sonae . Sim, sempre pedi para ir ao WC e muitas das vezes ignorada indo á rebelia das chefias

Tenho uma anemia crónica e ainda assim insistiam em meter-me 2 dias a trabalhar 5h e sem comer…

Fui ensinada se possível a comer de 5 em 5 horas ou mais


Comerr? mesmo que tenhas problemas de saúde (estômago) que impliquem comer vezes amiúde não podes!!! tens que aguardar as tuas ditas 4h que é para estragar mais ainda o estômago…

Cheguei a fazer horários de 8 horas na caixa e só ao fim de 6 horas de trabalho ia jantar ou almoçar. EX: 12h00 às 21h00, só comia das 18h00 às 19h00 e no meu horário estava das 14h00 às 15h00; falei à minha chefe e a resposta delas era ‘não tenho operadoras suficientes, aguenta’… depois há erros de que os clientes não têm culpa…

Na loja onde trabalhei, o director proibiu a água. Qual o motivo? Não foi explicado, mas era fácil perceber que a ideia era limitar as idas à casa de banho o mais possível

Uma colega gravida (gravidissima) com diabetes gestacionais estava a sentir-se mal porque não a deixavam fazer uma pausa para ir sequer comer, beber ou à casa de banho

Isto para já não falar das colegas mulheres que estão com o período e chegam a ficar todas sujas porque não lhes permitem ir ‘mudar o penso

Reconheço todas as queixas e ainda acrescento algumas: na loja onde trabalhei, o aquecimento era desligado e só era ligado nos dias em que vinham auditorias à loja

Eu deixo já a sugestão para que a Igreja Católica canonize Belmiro de Azevedo e o ponha no altar! Todos os elogios ao patrão-maravilha podem ser lidos aqui.

10 comentários:

  1. Não sabia de tudo isso. :(
    Eu apenas conhecia o Belmiro como amigo dos meus pais.Era muito simples e nada snob.
    Os filhos, a mesma coisa. Porreiros para nós, amigos dele.
    Beijinhos

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    1. Olá!
      Eu não conheço o senhor, se é simpático, honesto ou visionário. Nem sequer nunca trabalhei em nenhuma das suas muitas empresas, mas de há muito que conhecia a realidade de que é trabalhar no grupo Sonae e é isso que se avalia da sua vida pública. Maus salários, fazer do trabalhador um escravo; obrigar as pessoas a fazer horas e horas que não são pagas; não te deixam beber, não te deixam sequer mudar um penso higiénico. Se fores ao blogue de onde retirei os testemunhos, tens muito que ler! E é isto um empresário exemplar? Para mim não é. É alguém que enriqueceu à custa de explorar os mais pobres. Não é este o exemplo de um bom empresário moderno que quer o melhor para o seus trabalhadores. É o típico patrão salazarista. E certamente que foi por tudo isto que PCP, BE e VERDES não votaram favoravelmente o voto de pesar na assembleia da república. Mas disso não se fala nos média. Como sempre, não convém abrir os olhos às pessoas.
      Bom feriado, beijo

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  2. Peço desculpa...
    Conheço algumas pessoas que trabalham na Sonae e no Continente e não me dizem que fosse um típico patrão salazarista.
    Há quem invente imensa coisa.
    O que sei, é que ele era exigente para com ele, filhos e empregados. Se chegou onde chegou, foi à custa de muito trabalho.
    Eu até tenho ideias de esquerda, mas desta vez não concordei com eles.
    Beijinhos e bom feriado.
    Ana

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    1. Ora bem, é lógico não era ele que estava à frente de todas as Worten, Continente, Modelo, Sonae, etc etc. Mas que a forma de gestão das empresas dele era assim, baseadas na exploração de mão-de-obra isso toda a gente sabe! Não são invenções! Basta tu ires ler as declarações que ele teve ao longo dos tempos, criticando sempre os trabalhadores portugueses (que "precisavam trabalhar três ou quatro vezes mais"!) criticando aqueles que fizerem dele o que ele se tornou. E basta veres quanto é que ele paga! Exige muito, mas depois dá o mínimo possível!
      Depois a meu ver os partidos de esquerda só foram coerentes com a sua matriz ideológica. Se dizem defender os trabalhadores, não podem defender patrões que ostracizam os trabalhadores. Tal como a meu ver estiveram bem quando não aplaudiram o discurso do rei espanhol na nossa assembleia da república. Se não defendemos regimes não democráticos eleitos pelo povo, como acontece com a monarquia, não temos de ser hipócritas só para parecer bem.

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    2. Konigvs,
      Não o pretendo defender. Mas qual o patrão que não explora a sua mão-de-obra?
      Acho eu que todos.Uns mais.Outros menos...
      Quanto aos salários que ele pagava, há salários e salários. Uns bons e outros fracos.
      Bem sei que os trabalhadores do Continente, ganham muito pouco mas e os dos outros hipermercados? Ganham bem?
      A economia capitalista é mesmo assim.

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    3. Ana, segundo os meus colegas de trabalho, eu passo a vida a dizer a seguinte frase: "Não podemos generalizar"! Porque eu não aceito que se diga que "os homens são todos iguais", "as mulheres são todas umas putas", "os patrões são todos uns cabrões", "os trabalhadores não querem fazer nenhum", etc etc. Generalizar é muito fácil mas quase sempre injusto.

      E no que diz respeito ao trabalho, também é muito injusto. Nem patrões nem trabalhadores são todos iguais. Sabes, na empresa onde estou, uma pequena empresa que lida com as suas dificuldades, certa vez o administrador, que é da minha idade, disse mais ou menos isto: "Esta não é uma empresa de salários mínimos. Nem é uma empresa de meter as pessoas a fazer três contratos e depois pô-las na rua para que elas não entrem aos quadros. Muito menos é uma empresa que explore os trabalhadores com recibos verdes. Mas também exigimos que as pessoas dêem o seu melhor, pois a nossa empresa vale, aquilo que o nosso pior trabalhador fizer".

      Dou-te outro exemplo. Recentemente, numa festa familiar, estive à conversa com um primo (com idade quase para ser meu pai) que tem uma empresa de sucesso do ramo alimentar, e que me disse que se sente muito orgulhoso de dividir parte dos seus lucros com os trabalhadores.

      Claro que a maioria dos patrões portugueses, aquele típico patrãozinho aqui do norte, tão bem caracterizado pelo Joaquim Monchique nos Donos Disto Tudo, são muito "espertos" aquele género que mete as pessoas a recibos verdes, que não mete ninguém aos quadros, que não paga horas-extra, aquele típico patrão que enriquece à custa da exploração dos outros.

      Depois fala-se que a produtividade em Portugal é uma miséria. É verdade. Mas afinal de quem é a culpa? Por que é que nos países estrangeiros, para onde tantos portugueses emigram em busca de melhores condições de vida, gostam tanto dos trabalhadores portugueses? Será que é por serem maus? É por serem bons! Então a nossa má produtividade é culpa de quem? Dos maus gestores que temos!

      E não podes justificar o facto de o Belmiro pagar mal com outros também pagarem mal. Cada um reponde por si. Do que eu ouço parece que o Lidl paga bem. Porque será? Será por ser uma cadeia alemã?

      Ser bom patrão é ser astuto, é ter visão, é ser empreendedor. Mas é também ter responsabilidade social, não é querer enriquecer a qualquer custo. É exigir dos trabalhadores o seu melhor, mas é também dar-lhes as melhores condições de trabalho para o fazerem o seu trabalho bem feito. Eu tenho uma amiga a estagiar na área da joalharia, que lida com produtos químicos muito perigosos, e quando diz que deveria usar equipamentos de proteção individual, a patroa diz que ela e a colega são hipocondríacas! Claro, não é ela que pode apanhar cancro!

      Bem, já me alonguei bastante! O que eu te quero dizer é que nem todos os patrões exploram as pessoas que lhes dão dinheiro a ganhar. Felizmente que já há empresas onde quase não te falta nada, e até podes deixar o filho. Quem começou com isso foram empresas estrangeiras, mas quando os patrões portugueses percebem que, trabalhadores mais motivados trabalham melhor começam a questionar-se.

      Mas vem aí o admirável mundo novo dos patrões: os robôs! Esses podem trabalhar 24/dia, sem se queixar, sem direitos nem subsídios!
      e, nem de perto!

      (e tive de apagar uns quantos parágrafos porque me empolguei na escrita e já tinha carateres a mais!)

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  3. https://www.indeed.pt/cmp/Continente/reviews

    https://www.indeed.pt/cmp/Sonae/reviews

    Pelos vistos nem tudo é mau.

    Quanto a isto:"Isto para já não falar das colegas mulheres que estão com o período e chegam a ficar todas sujas porque não lhes permitem ir ‘mudar o penso"
    Não acredito.

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    1. Ana, cada pessoa acredita nas fontes que quer, ou naquelas que lhe dão mais jeito para validar a sua convicção pessoal. Eu convivo diariamente com uma pessoa formada, que me diz que o aquecimento global é uma invenção dos ambientalistas e que tudo o que o Trump faz e diz é genial. E ele quer acreditar mesmo nisso! Quem sou eu para desmentir! No entanto o degelo está aí para quem quiser ver e o aumento da temperatura média do planeta! Mas eu não menosprezo o poder da negação!

      É muito bom haver empresários de sucesso para dar emprego e dinheiro às pessoas e ao país, mas é preciso dar condições às pessoas. É preciso dignidade no trabalho. E não é digno dizer-se aos portugueses para "comprarem o que é nosso" porque convém, mas depois ir a correr pagar os impostos na Holanda para pagar menos. Sim, o Jerónimo Martins (outro que tal) também o faz, mas como te digo, cada um responde por si.

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  4. Sou preguiçosa a escrever e por isso vou só colocar umas palavrinhas.
    Tens sorte em ter um patrão assim. :)
    Concordo, em parte, com o que dizes e pensas, mas não sou tão radical. Já fui, em tempos.
    Também sou contra a exploração dos trabalhadores, salários de miséria, más condições de trabalho…etc, etc…
    Acontece que estou em baixo, devido à morte do Eng. Belmiro, senhor que muito estimava. A ele e família.Anteontem e ontem...fui ao velório, missa e funeral. É natural que não goste de ver a falarem mal dele. Não?
    Compreendes-me?
    Beijinhos e boa noite.
    Ana

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    1. Claro que compreendo. Estamos a falar de uma pessoa das tuas relações e de alguém que eu não conheço. E o confronto com a morte, ainda por cima com alguém tão próximo é sempre complicado. Desculpa estar a entrar em confronto argumentativo contigo quando estás assim tão debilitada.
      Aceitas um abraço?
      Fica bem.

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