segunda-feira, 18 de setembro de 2017

Na Soleira da Porta

Era na soleira das portas 107 ou 101 que eu gostava de me sentar enquanto esperava pela camioneta. Por vezes lia o jornal, pelo menos o Blitz lia todas as terças-feiras e que custava menos de cem escudos, ou comia um Bolicao que comprava no quiosque da esquina da rua Barão de São Cosme. E foram muitos anos a sair de manhã na última paragem, e entrar nessa mesma paragem ao fim da tarde, no autocarro que me levaria até casa, quarenta e cinco minutos depois, se corresse tudo bem. Mais tarde os autocarros haveriam de passar para o Central Shopping e com eles levaram toda a vida daquela rua. Mais tarde, também este centro comercial haveria de morrer. 

E claro que hoje, quando passei por lá, me lembrei de muitas coisas. Inevitavelmente lembrei-me de ti também. Para mim é inevitável lembrar-me das pessoas que foram importantes para mim, e de todas as memórias que determinados locais carregam. E se tu estiveste presente durante cerca de uma década na minha vida, é normal para mim que me lembre de ti. 


E naquele tempo, disseste-me depois quando nos conhecemos, reparavas muito em mim quando me vias. Mas em boa verdade, também é preciso dizer que toda a gente reparava! E se não era por me achares um deus grego (dessa nunca me vou esquecer!) seria certamente por eu me sentar na mesmíssima soleira que tu mesma também gostavas de te sentar. E eu achei muita graça a esse detalhe. Sabes que eu hoje acredito que determinadas pessoas que vamos conhecer no futuro, muito antes disso já nos andam a rondar. Muitas vezes passam nos mesmos caminhos, vão aos mesmos eventos que nós, e vê lá tu, que às vezes, até já nos andam a ler há anos! No fundo essas pessoas e nós, andamos à espreita de aproveitar uma oportunidade que o destino nos der. Acho que tem um pouco de destino e um pouco de livre-arbítrio talvez. 

E foi ali, junto a uma daquelas soleiras (acho que ainda te consigo ver e estavas de pé) quando ainda não nos conhecíamos, que me viste - e eu sei porque nesse mesmo momento também eu te estava a ver pelo canto do olho - e ouviste o Mota chamar-me por aquele nome, pensando tu que eu seria assim tratado pelos colegas. E acabou por ser esse nome, depois por mim adaptado, que haveria de dar origem ao meu primeiro pseudónimo, e que, ainda hoje, parte dessa palavra (Königvs) ainda uso. 

Tempos depois haveríamo-nos de nos cruzar por mera casualidade, certamente num evento previamente cozinhado pelo destino. Destino e livre arbítrio como te digo. O destino fez-nos esbarrar um no outro. Tu decidiste fazer-me uma pergunta...

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