quarta-feira, 27 de setembro de 2017

Anónimo

"Jonson, aproxime-se.
Sabia que a árvore genealógica da minha família é a mais antiga do que qualquer outra família do reino? Combatemos em Crecy, Bosworth Field, Agincourt. Quando herdei o meu título, era um dos homens mais ricos de Inglaterra. No fim da minha vida,serei um dos mais pobres. Nunca tive voz no governo. Nunca ergui a espada numa gloriosa batalha. As palavras... as simples palavras serão o meu único legado. Só você vê as minhas peças e sabe que são minhas. 
Quando ouço os aplausos...os vivas do público, as mãos a aplaudir... sei que aplaudem outro homem. Mas naquela...cacofonia de sons, esforço-me por ouvir apenas duas mãos. As suas. Mas nunca as ouvi. Nunca me disse...nunca... me disse o que achava do meu trabalho. 

Acho... as suas palavras... as mais...maravilhosas...jamais ouvidas no nosso palco. Em qualquer palco. Desde sempre. O senhor...é a alma dos nossos tempos.


Prometa-me, Jonson... que guardará o nosso segredo que não vai denunciar Shakespeare. 
- Vossa senhoria...
- Já o vi na sua cara. Ele envergonha-o. Como podia não o fazer. Mas ele não é fardo seu. É meu. 
Tudo o que escrevi...as minhas peças, os meus sonetos... mantenha-os em segurança.Esconda-os da minha família. Os Cecil. Espere uns anos e depois publique tudo. 
Vossa senhoria, eu... não sou digno dessa tarefa. Eu traí-o. Contei-lhes da sua...
A tarefa da minha vida foi conhecer o carácter dos homens, Jonson. Eu conheço-o. Pode ter-me traído...mas nunca trairá as minhas palavras. 

Anonymous / Roland Emmerich / 2011

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