quarta-feira, 24 de maio de 2017

Inveja do Pénis & Obsessões Urinárias

O caso mais interessante é o de Florrie recolhido por Havelock Ellis (Psycology of sex), e cuja análise Stekel retomou posteriormente. Dou portanto aqui o relato minucioso do caso:

Trata-se de uma mulher muito inteligente, artista, ativa, biologicamente normal e não invertida. Conta ela que a função urinária desempenhou papel importante na sua infância; brincava aos jogos urinários com os irmãos e molhavam as mãos sem nenhuma repugnância: 

“As minhas primeiras concepções da superioridade dos homens relacionaram-se com os órgãos urinários. Ressentia-me da Natureza por me ter privado de um órgão tão cómodo e tão decorativo. Nenhuma chaleira privada do seu bico jamais se achou tão miserável. Ninguém precisou insuflar-me a teoria da predominância e da superioridade masculinas. Tinha uma prova constante sob os olhos”.
 
Ela própria experimentava grande prazer em urinar no campo. 

“Nada se lhe afigurava comparável ao ruído encantador do jato sobre as folhas mortas em um recanto de bosque e ela observava-lhe a absorção. Mas o que mais a fascinava era urinar na água.” 

É um prazer a que muitos rapazes são sensíveis e há toda uma série de estampas pueris e vulgares que mostram rapazes urinando em tanques ou regatos. Florrie queixa-se de que a forma das suas calças a impedia de se entregar às experiências que quisera tentar; muitas vezes durante os passeios no campo, acontecia-lhe reter a urina o mais possível e, bruscamente, aliviar-se de pé. 


“Recordo perfeitamente a sensação estranha e proibida desse prazer e também meu espanto de que o jato pudesse sair quando eu estava em pé.” 

A seu ver, as formas das roupas infantis têm ‘muita importância na psicologia da mulher em geral. 

“Não foi apenas para mim uma fonte de aborrecimentos ter de desfazer-me das calças e depois abaixar-me para não lhe sujar a frente. A parte de trás, que deve ser puxada e deixa as nádegas a nu, explica por que, em muitas mulheres, o pudor situa-se atrás e não na frente. A primeira distinção sexual que se impôs a mim, na verdade, a grande diferença, foi verificar que os rapazes urinavam de pé e as meninas agachadas. Foi provavelmente assim que meus mais antigos sentimentos de pudor se associaram às minhas nádegas mais do que a meu púbis.” 

Todas essas impressões assumiram, em Florrie, importância extrema porque o pai chicoteava-a frequentemente até fazer sangue e uma governante, certa vez, batera-lhe a fim de obrigá-la a urinar; ela era obcecada por sonhos e fantasias masoquistas em que se via açoitada por uma preceptora sob os olhos de toda a escola e urinando, então, contra a vontade, “ideia que me causava uma sensação de prazer realmente curiosa”. Aos 15 anos, aconteceu-lhe urinar de pé, na rua deserta, instada por uma necessidade urgente. 

“Analisando as minhas sensações, penso que a mais importante era a vergonha de estar em pé e o comprimento do trajeto que o jato deveria percorrer entre mim e a terra. Essa distância fazia disso algo importante e visível, ainda que que vestido o escondesse. Na atitude habitual havia um elemento de intimidade. Quando criança, o jato, mesmo grande, não podia percorrer um longo trajeto; mas, com quinze anos e alta, senti vergonha em pensar no comprimento do trajeto. Tenho certeza de que as senhoras às quais me referi, que fugiram apavoradas do mictório moderno de Portsmouth, consideraram muito indecente para uma mulher ficar em pé e de pernas abertas, levantar as saias e projetar tão longo jato por baixo.” 

Florrie recomeçou aos vinte anos a experiência e a repetiu, posteriormente, muitas vezes; sentia uma mistura de volúpia e de vergonha à ideia de que podia ser surpreendida, sendo-lhe impossível parar. 

“O jato parecia sair de mim sem meu consentimento e, no entanto, causava-me maior prazer do que se o houvesse feito voluntariamente"

Essa sensação curiosa de que é tirado de nós por algum poder invisível, que decidiu que o faríamos, é um prazer exclusivamente feminino e de um encanto sutil. Há um encanto agudo em sentir a torrente sair em virtude de uma força mais poderosa do que nós mesmas.” Posteriormente, Florrie desenvolveu em si um erotismo flagelatório sempre acompanhado de obsessões urinárias.


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