terça-feira, 31 de janeiro de 2017

A solidão crónica

Há já algum tempo que não ouvia o "Pensamento cruzado" da TSF. Programa que sempre gostei de ouvir no carro, mas que desde que mudei de horário, deixei de apanhar (apesar dos programas estarem todos na net). Hoje, por mera coincidência, saí um pouco mais cedo porque tive de passar no hospital e apanhei a emissão de hoje:

"A solidão crónica é mais perigosa que a obesidade e que o alcolismo é o que diz o mais recente estudo do neurocirurgião argentino Facundo Manes"

Nós somos seres sociais. Todo o nosso processo de desenvolvimento é nesta reciprocidade com o outro. Quando isso falta - e é até por isso que a nossa espécie foi evoluindo e foi-se desenvolvendo - quando isso falta, é evidente que nós definhamos. O nosso cérebro definha se quisermos. E esse definhar tem uma tradução neuro-biológica se quisermos. Porque se eu preciso de entender a interação com o outro, se eu preciso trocar afetos com o outro para que a minha maturidade cognitiva.. o meu cérebro é um órgão social, e portanto, se eu não tenho essa interação com o outro, tudo aquilo que é a neuro-química cerebral, e que é importante para a construção da aprendizagem, para a construção das relações, para a construção dos afetos, para aquilo que são as cognições, o pensar sobre o pensar, aquilo que se chama, as meta-cognições, e este refletir, precisa de neurotransmisores, que alimentam este processo. E se não há esta interação, se nós excluímos a pessoa desta interação com o outro, porque está num processo de solidão, ela está amputada da possibilidade que isto aconteça (...) 
(Vítor Cotovio)

Via Pinterest
Por todas estas razões e sublinhar o seguinte: Nós já sabíamos o impacto que a solidão tinha aqui há uma data de anos, Até costumávamos dizer, e eu digo, "a solidão não é uma doença mas faz adoecer". Agora do ponto de vista do que se conhece hoje em dia, da dinâmica cerebral, das segregações de neurotransmissores, etc, obviamente já se consegue, mostrar isto e evidenciar isto de uma forma quantitativa e objetiva. Portanto, deixar isto claro que já se sabe isto há mais tempo, agora sabe-se porquê e como. Por outro lado dizer que, mesmo as pessoas que se sentem cronicamente sós, que há uma série de atividades ou iniciativas que poderiam e deveriam fazer para combater este estado de sentir, nomeadamente coisas como: conviver, desenvolver os seus aspetos culturais em partilha com outros e portanto, desenvolver a sua bagagem cultural. Fazer o exercício físico também em partilha com o outro, e também pelas implicações que isto tem com a produção de neurotransmissores saudáveis, sendo que há um aspeto fundamental, só uma coisa não combate a solidão crónica: as pessoas que vivem atrás da tecnologia, sem estar com os outros, estando ilusoriamente com eles. No estar e no conviver, a tecnologia só pode ser um complemento, não pode ser uma substituição do estar com o outro. 
(Margarida Corvo)

O programa pode ser ouvido aqui.

1 comentário:

  1. Não foi por acaso que ouviste esse programa ontem... é verdade que somos seres sociais e devemos estar constantemente a interagir mas um pouco de vez em quando não faz mal para nos encontrarmos mas nunca depender dela e isolar. Como sabemos a tecnologia tem as suas maravilhas mas ao mesmo tempo tem este senão da sensação de convivência. GrAnde tema este, tem muito que se diga a nível psicológico. Abraço

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