terça-feira, 21 de junho de 2016

O Placebo Espiritual

Ao longe, ouvia o senhor, com mais de setenta anos, que já percorreu grande parte das freguesias aqui do concelho, e que já me falou do que é isso de ser realmente amigo, falar disso do benzer dentro da igreja. 

Eu entro numa igreja romana, maior ou mais pequena, riquíssima ou mais modesta, como entro em qualquer outro sítio. Tenho no entanto algum pudor na forma como me comporto. Não acho de bom tom pôr-me a rir e a dizer graçolas e caralhadas, como vi alguém fazer no dia anterior, quando ali ao lado, a dois passos, decorria um batizado. 

Eu não sou crente na igreja do império romano, que ao contrário do que ensina nas escolas ainda não ruiu e continua a dominar o mundo através da igreja que inventou para o efeito, e sou muito corrosivo quando falo desse bando de ladrões e pedófilos que são os padres e a restante corja, mas acho que se lá entro dentro então devo comportar-me com algum respeito, com o mesmo respeito que entraria noutro templo de outra religião qualquer. 

Mas entro como turista, e tenho entrado sempre porque estou com outras pessoas que querem entrar para ver (como se as igrejas não fossem todas iguais!) e então entro também para admirar a ostentação religiosa, vinda dos tais que apregoam o despojamento dos bens materiais e que dizem que é mais fácil um camelo passar no fundo de uma agulha que um rico entrar no reino dos céus, mas que aplicam o "olha para o que eu digo, não olhes para o que eu faço"! E como é lógico, não me benzo, muito menos faço a genuflexão quando cruzo o altar e bem que os meus joelhos agradecem. 

Mas este senhor, talvez fruto da idade, sentiu-se à vontade para proferir umas observações bem ao jeito multi-resistente:

"Essa coisa do benzer..." ouvia-o ao longe, e comecei logo a prestar atenção. 

Certo dia, a Guilhermina, a minha vizinha, sabendo que eu ia a Fátima, veio pedir-me se lhe trazia água de lá para beber... Na volta, estava já a uns dez quilómetros de Fátima, quando me lembrei da água para a mulher. Então lá enchi numa torneira qualquer a água  para lha dar. Dias mais tarde, veio-me lá a senhora agradecer. Ai que a água fez-me tão bem....

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