quinta-feira, 31 de março de 2016

Deus: O Pai de todos os Misóginos

Ultimamente muita gente se tem insurgido contra algumas pessoas que, em pleno século XXI, continuam a achar que a mulher é, basicamente, um monte de merda. Ainda por estes dias, lia a revolta de algumas pessoas, quer contra um troglodita comentador do Porto Canal. quer contra um tipo americano que também escreve umas barbaridades no seu blogue, afirmando, entre outras coisas, que a mulher basicamente serve para ser tratada como algo descartável, que se usa e deita fora, e depois vai-se pegar noutra mulher qualquer quando se precisar.

E ultimamente muito se tem falado de misogenia. Ainda há minutos, quando folheava virtualmente a imprensa estrangeira, lia de relance a palavra em inglês, associada a um qualquer candidato troglodita às presidenciais americanas.

Mas sinceramente eu não percebo esse tipo de indignação. Ou melhor, eu indigno-me é, como é possível que, em pleno século XXI, continuemos a ter mais de 90% da população que se diz católica apostólica Romana, ou cristã, e existe uma imensidão de diferentes religiões cristãs, e muita gente, ainda que seja só "pelo-sim-pelo-não" e  não vejo ninguém que se insurja contra o Deus que os romanos inventaram à sua imagem.

Sim, o Deus que os romanos inventaram à sua imagem, mas venderam a ideia oposta, de que "Ele" é que nos fez à sua imagem! Mas não. Os Romanos é que inventaram um novo Deus, à imagem das suas conveniências políticas. Lá está, sempre a política.
Os gaijos tinham deuses para todos os gostos. Até tinham um Deus só para os bacanais! E de repente (supostamente) mataram um criminoso que até foi crucificado, e mais à frente, renunciam a todos os deuses em que acreditavam, e passaram a acreditar na palavra do criminoso que condenaram à morte! Se não é estranho para 90% da população, para mim é mesmo muito estranho!

E esse Deus que grande parte da população mundial come, sem se questionar, porque lhes foi dado a comer pelos romanos desde há dois mil anos, e porque as pessoas nascem, crescem, e acreditam naquilo que passa de boca em boca durante milénios, e depois porque pensar pela própria cabeça é uma chatice!

E para mim é esse Deus, o pai de todos os misóginos. O pai de todos aqueles que odeiam as mulheres, que acham que as mulheres são inferiores, que na verdade são um monte de merda, e que devem ser tratadas com tal.



E é revelador o que este Deus feito à imagem dos Romanos pensa sobre a mulher, e revela-o logo no Génesis, o primeiro livro da Bíblia, e que continua por aí adiante, com aberrações para todos os gostos:

Deus disse à mulher: ‘Multiplicarei grandemente os teus sofrimentos e a tua gravidez; darás à luz teus filhos entre dores; contudo, sentir-te-ás atraída para o teu marido, e ele te dominará’. (Génesis 3:16)

Quando um homem se casa com uma mulher e consuma o matrimónio, se depois ele não gostar mais dela, por ter visto nela alguma coisa inconveniente, escreva para ela um documento de divórcio e o entregue a ela, deixando-a sair de casa em liberdade. (Deuterónimo 24,1)

Como em todas as igrejas dos santos, as mulheres estejam caladas nas igrejas; porque lhes não é permitido falar; mas estejam submissas como também ordena a lei. E, se querem aprender alguma coisa, perguntem em casa a seus próprios maridos; porque é indecoroso para a mulher o falar na igreja . (Coríntios 14, 33-35)

É melhor a maldade do homem do que a bondade da mulher: a mulher cobre de vergonha e chega a expor ao insulto. (Eclesiastes 42, 14)

Pois eu respeito tanto ou mais as mulheres que os homens. Não acho que os homens são melhores ou piores, mais inteligente ou mais burros. São diferentes. Nunca um homem será uma mulher, tal como uma mulher será um homem (e claro que não estou a contar com as mudanças de sexo que hoje em dia permitem quase o impossível!)

E este Deus não é "amor", tal como é a ideia que as religiões cristãs vendem. E não é certamente o meu Deus. Se eu algum dia decidisse acreditar num Deus qualquer, nunca que acreditaria num que acha que mulher é um monte de merda, e que só serve para ser submissa ao homem. Até porque às vezes sou eu que gosto de ser submisso para elas. Fetiches condenados ao fogo do Inferno.(Inferno que há pouco a Igreja Católica decidiu que deixou de existir!)

E depois não deixa de ser irónico, termos uma religião Católica que abomina as mulheres, que as trata, à semelhança deste Deus, como um monte de merda, e no entanto são elas que ainda vão correndo para as igrejas, e muitas vezes, se não fossem elas, essas igrejas, construídas graças à fome que se dava ao povo, estariam ainda mais vazias. E eu juro que não entendo. Como é possível, que uma só mulher possa acreditar nesse Deus? Tal como acho incrível que um só homossexual (ou bissexual) possa seguir este Deus. Ou que um só preto possa ser Católico. Não entendo. 
Porque Eu, eu não corro atrás de quem acha que eu sou uma aberração. Ou que sou um monte de merda. 

E é este Deus, machista, misógino, racista, hipócrita, calaceiro e vingativo, o culpado de todo este atraso de vida em que vivemos. É a palavras deste Deus, que legitima todos os trogloditas que ainda hoje em dia maltratam as mulheres, pois estão a coberto da "palavra sagrada" d'Ele.

Eu amo a mulher. Não amo este Deus inventado à semelhança dos Romanos. 

Seja Feita a Minha Vontade. 
Amén. 



quarta-feira, 30 de março de 2016

Tu para mim és perfeita

Ó Professor, diga-me lá - quantas vezes é que viu o "Amor Acontece" (Love Actually)? 
Eu bem o ouvi, por estes dias, na rádio (em repetição?) a dizer que viu cinquenta e tal vezes o Notting Hill! 
Como eu o compreendo! 

Nós os românticos (baixinho para ninguém ouvir!) exaltamos com essas demonstrações de afeto no cinema. O professor bem pode dizê-lo, afinal é uma figura pública, um homem reconhecido pela sua profissão. Mas eu não. Tenho este aspeto de bárbaro, escrevo mal e uso calão, apesar de ser propositado. Se me ponho a dizer a dizer que sou um romântico afasto logo a freguesia toda! O professor sabe. Um homem não chora. Um homem não diz que não a uma mulher, come-as a todas. Homem que é homem não anda a sofrer por uma mulher. Homem que é homem sabe que há muito peixe no mar. Um homem perante a sociedade, tem de ser como todos os homens.

E ser romântico hoje em dia, é pior que dizer que se tem uma doença venérea! Imagine agora, um homem afirmar que viu uma comédia romântica! É o fim do mundo! Na verdade eu não uso essa palavra... costumo dizer que "sou um bocado Gó". Sabe, eu tenho a minha terminologia, gosto de usar as minhas expressões. Olhe, gosto de escrever gajo com "i" já viu!  
Viking Gó está a ver? Imagine um Viking alto, grande e forte, com uma grande espada, mas depois com um lado sentimental. Imaginou? Então não deve ter nada a ver!




Sabe que eu vi umas quantas vezes o "Amor Acontece". Aposto que o professor também o deve ter visto umas quantas vezes! Aquela cena final, em que o escritor inglês vai resgatar a sua donzela, aquela emigrante portuguesa que foi a sua empregada de limpeza é - lá está! - muito Gó! E quando ele lhe diz em inglês (que ela não entende) que quando a vai levar a casa, é o melhor momento do dia? Lindo não é?
Olhe, sabe que mais, tenho de rever o filme um dia destes! 

E especialmente dedicado a si, inauguro aqui no blogue, uma sequela de cenas românticas inesquecíveis de filmes, e começo já com esta do "Amor Acontece". "Tu para mim és perfeita":




"Por agora deixa-me dizer-te - sem esperança nem agenda - Para mim, tu és perfeita - E o meu coração despedaçado irá amar-te - Até seres assim (velhinha)".

E ó professor, isto só funcionava mesmo em filme não é? Um gaijo fazia uma coisa destas, e ela não vinha a correr atrás de nós dar-nos um beijo! No mínimo levávamos com a porta na cara! Mas resulta sempre muito bem em filme!

Já agora professor, se um dia destes passar por si na rua, dou-lhe um abraço. E digo-lhe "Gosto de si... o professor é um gaijo porreiro".

sexta-feira, 25 de março de 2016

Quando a Igreja é um Problema de Saúde Pública

Hoje é feriado. Não se trabalha. É por isso ainda estou aqui, no quentinho da cama, a ver se começo a escrever alguma coisa em vez de estar a tomar o pequeno-almoço e a preparar-me para mais uma sexta-feira de trabalho.

Na verdade até foi uma colega de trabalho que me deu a boa nova (expressão mesmo apropriada!) no início da semana, porque eu nem sequer tinha antecipado este feriado do 25 de Março. E eu que até conheço muito bem todos os feriados. Parece que é um dia "santo", um daqueles feriados religiosos, daqueles que não deveriam existir, porque para quem não saiba, vivemos num Estado Laico, que significa que não tem religião, logo não deveriam existir feriados religiosos.  Mas a discussão dos feriados religiosos ficará para outra altura. Para mim, todos os feriados são dias "santos", sejam religiosos ou não. 

Falou-se em Páscoa, e de imediato me assaltaram duas ideias. A primeira é a de que, se não houvesse Páscoa,  os católicos - que apesar destes não fazerem a mínima ideia do que é a Páscoa! - nunca que lavariam as suas casas e passeios, tal é a azáfama em que andam nestes dias, como não se vê em mais nenhuns dias do ano!  A segunda questão, e essa que me preocupa verdadeiramente, é o facto da visita pascal ser um verdadeiro atentado à saúde pública, e não vejo nenhuma autoridade, seja política ou policial a fazer o que quer que seja. 

Via Pinterest

No próximo domingo lá vem o compasso de casa em casa, entrando pelas casas adentro com a ladainha do costume:

"Cristo ressuscitou, Aleluia Aleluia 
Passa mas é para cá o dinheirinho
Aleluia Aleluia"

Mas eu não tenho absolutamente nada contra com as tradições católicas, muito menos com questões de fé. Cada um acredita no que quer, que faça o que muito bem o que entender, tal como que eu faço. Mas o que eu não posso tolerar, é que se continue a perpetuar um comportamento grave, e atentatório da saúde pública. 

Já não estamos na Idade Média, em que as pessoas, mesmo as ricas, cagavam e mijavam dentro dos palácios, fosse diretamente para as paredes ou para o chão, tal como os animais, e em que as doenças proliferaram e se transmitiam rapidamente pela evidente falta de higiene. 

Vivemos felizmente outros tempos. Tempos em que se alerta constantemente a população, para que se lave muito bem as mãos, principalmente quem trabalha nos hospitais, para que não se contagie doentes e outras pessoas. Então, como é possível, que ano após ano, as visitas pascais continuem alegremente por esse país fora, em que se dá um boneco a beijar às pessoas, permitindo que se transmitam toda uma série de doenças, e como é possível que as autoridades, nomeadamente a ASAE nada faça?

Este não é um problema da Igreja Católica, é um problema de todos nós. Uma qualquer pessoa, com uma doença, que pode ainda nem saber que a tem, pode muito bem ao beijar o boneco, deixar ali uma fonte de contágio para todas as outras pessoas, nomeadamente pessoas (como é o meu caso) mais fragilizadas por serem doentes crónicos e sem defesas. Como é possível, que em pleno século XXI as autoridades não tenham ainda proibido este ritual aberrante? 

Mais!! E a água benta nas igrejas? 
Como é possível que esta ainda não tenha sido proibida pela ASAE? 
A água está ali, parada, não sei quantos dias, a ficar choca e toda a gente lá vai e mete a mão. Mão esta que pode antes ter andado sabe-se lá onde. E todos metem a mão. E a água benta ali fica parada, porca, de todas as mãos. Como é possível que nada se faça? 
Por que é que a ASAE não obriga as igrejas a ter, sei lá, por exemplo dispensadores de água benta? Ou então, por que é que não engarrafam a água benta? Até me parece que acabei de deixar aqui dois ótimos modelos de negócio para a Igreja Católica! Até podiam vender água benta nos supermercados! Mas acabem é de uma vez por todas com estes comportamentos medievais. 

Por último, dizer que é muito interessante verificar o pouco poder de encaixe dos católicos face às críticas que faço. Perante os meus argumentos, que são mais do que evidentes e que não dão qualquer hipótese de defesa, as pessoas defendem-se dizendo que também há outros problemas de higiene a que ninguém liga. Muito visto esse argumento, usa-se muito quando se fala, por exemplo, de política. Quando eu digo que este político é ladrão, não dizem que o homem é um santo! Não, defendem-se dizendo que há outros que também o são!

Mas ainda mais interessante é observar como rapidamente cai o véu a todas as pessoas que se dizem em favor da liberdade de expressão e de pensamento. No trabalho, e perante estas minhas chamadas de atenção, houve alguém, já muito exaltado, que se vira para mim e diz: "Vê lá como falas. Estás a desrespeitar as pessoas". 

Interessante! E eu respondi: "Então não éramos todos Charlie Hebdo? Então não andavam por aí todos solidários, afirmando-se Charlies, em defesa da liberdade de expressão"? Quando alguém satiriza Maomé e fazem dele um palhaço qualquer, temos de respeitar, agora eu, só porque chamo a atenção para um problema sério, já tenho de ter cuidado como falo? Mas era o que havia de faltar!
Mas vão quê? Queimar-me na fogueira por pensar pela própria cabeça? Ou amarrar-me de pés e mãos e atirar-me ao rio como se fazia com as supostas bruxas nos tempos da Inquisição? 

Meus caros, eu estou-me a cagar para a fé de cada um. Respeito todas as religiões por igual, não tenho nada a ver com isso, é uma questão pessoal, até está consagrada na Constituição. Mas a visita pascal não é uma questão de fé, é uma questão de saúde pública. 

E já agora, e só para esclarecer, porque 99,9% dos católicos nem sequer sabe o que é a Páscoa:
Páscoa é a festa que comemora (muito antes de Cristo ter sequer nascido!) a libertação e condução do povo judeu, por Moisés, do Egito à Terra Prometida. Nada tem a ver com os cristãos (Cristo nem era cristão sabiam disso certo?) nem tem a ver com católicos, nem com chocolates ou com ovos e coelhos, muito menos com envelopes cheios de dinheiro para dar ao padreco da freguesia. 

segunda-feira, 21 de março de 2016

Nunca me deixes III

Há algumas semanas tinha tropeçado num vídeo partilhado no Youtube das Black Widows, a primeira banda portuguesa de Metal exclusivamente com mulheres. E de imediato recordei-me desses tempos, em que, sempre que gostava de determinada banda, que tinha descoberto numa crítica de revista, ou até mesmo visto num concerto ao vivo, e que muitas vezes ainda nem tinha nenhum álbum editado que se pudesse comprar nas lojas, e então contactava diretamente a própria banda no sentido de adquirir uma demo ou maqueta, muitas vezes em formato K7 para então poder ouvir em casa ou no Walkman. 

E lembrei-me de uma carta que lhes escrevi. Claro que já não sei ao certo o que escrevi, mas sei que até desenhei no envelope com uma caneta preta... (A propósito, quando, e por que é que deixei de desenhar?) E sei que me responderam elogiando a carta, "por dentro e por fora".  
Mas não sei o que é feito dessa carta delas, ou da pessoa que na banda estava encarregue de fazer esse trabalho de responder às solicitações e que me respondeu a mim. E encontrar a carta era mesmo só uma curiosidade. 



E dias depois, andei a remexer algumas das minhas tralhas onde tenho todo esse arsenal de revistas, jornais, capas de arquivo com entrevistas de bandas, flyers, fanzines, bilhetes de concertos, cartas das bandas, e toda uma série de coisas do género, para ver se encontrava a dita carta, que terá sido formal, com duas ou três frases, sem qualquer relevância... E tropecei num pequeno artigo da banda na revista Pro Música e não pude deixar de reparar nas coisas que por ali estavam escritas. E em abaixo de uma afirmação assinada e tudo, quase uma espécie de pedido, com essas mesmas palavras "Nunca me deixes" (em inglês). 



E como agora é interessante olhar com esta distância temporal. A ironia dessas palavras. Quanto à carta das Black Widows, essa não a encontrei. Talvez não tenha procurado bem, ou muito provavelmente já nem exista.

terça-feira, 15 de março de 2016

À Luz da Escuridão

Este é um daqueles dias em que quereríamos esquecer a efeméride que passa. Mas... vá lá saber-se porquê, não esquecemos. Passam dezassete anos e mesmo não pensando nesse passado, há sempre qualquer coisa neste dia que nos faz olhar para a data e lembrar. 

Mas só lembrei a data. Não passei o dia a pensar nesse passado longínquo. 
Como que ironicamente até passei o dia a pensar no passado recente. É que quando o efeito da droga começa a passar, começamos a ressacar. E então das duas uma, ou vamos em busca de mais uma dose, ou então as dores começam a fazer-se sentir. Violentamente.



No trabalho foi um dia engraçado. Falhou a luz por um longo período. É preciso arranjar o que fazer mas que não necessite de eletricidade. E lá se arranjou entretenimento. Querendo, há sempre muito que se pode fazer. E é curioso, quando ponho outras pessoas a trabalhar, e agora tenho-o feito quase todos os dias, digo-lhes "pronto, já tens entretenimento". E o trabalho não deveria ser precisamente isso?

Mas houve uma coisa que não teve graça alguma. Todos se riram e achavam muita piada. e até faziam piadas da deficiência dela. E ainda por cima depois descobri que ela não estava muito longe. Será que eles se aperceberam disso? E se ela tivesse ouvido o que eles disseram dela? Quase fiquei embaraçado ao vê-la chegar de novo. Fiquei muito mal impressionado. Não gosto que se faça pouco de deficiências físicas. E nas costas dos outros vemos as nossas. Sim, sempre achei que o humor tem limites, e se não tem deveria ter. Nem que seja por uma questão de bom gosto. Não lhe vi a deficiência, porque sou discreto. Não fico a olhar as pessoas de cima abaixo. Mas eu achei-a simpática, pelo menos sorriu para mim. Posso achar que uma mulher bonita, que saiba sorrir, vale mais que uma deficiência? Posso pensar diferente? Posso?

Mas esta quebra de rotina, a falta de luz, deixou-nos um pouco mais próximos. Ainda por cima chovia. Ninguém saiu à hora de almoço. E teve de se conversar. Às vezes tudo fica em silêncio se eu não falo. Outras vezes falo demais. Outras ainda consigo ser espirituoso, sem ter necessariamente a mania que sou engraçado. E às vezes até consigo ter graça.

E talvez estivesse inspirado. A cada novo tópico de conversa saía-me um tema de uma música. Falou-se do silêncio. Poderia ter citado a "Enjoy the silence". Até me lembrei da banda de uma amiga do passado em que no CD até me colocou lá o meu nome nos seus agradecimentos. E eu só anos mais tarde é que vi isso lá, por mero acaso.

Mas preferi falar dos versos do refrão:

"Silence is not a way
 we need to talk about it".




E já ao fim do dia de trabalho, disse: "Estamos aqui... À luz da escuridão". 
E olha que belo título que isto dava.


domingo, 13 de março de 2016

Casais a passear de carro

Passei parte deste domingo a bicicletar, junto ao mar, numa conhecida ciclovia do grande Porto. E foi já no percurso de regresso, quando tinha os carros de frente para mim, que me comecei a aperceber - não se esqueçam que eu vivo numa caverna, e há muitas coisas na sociedade dos dias de hoje que me passam ao lado! - mas foi então hoje que me comecei a aperceber, do que se passa nos passeios de carro dos casais.

Na grande maioria dos casos conduz o gaijo. Ao lado vai a mulher, e tanto pode ser namorada, esposa ou companheira com quem vive. É indiferente. Vi casais muito jovens, daqueles que mais parece que ainda nem têm idade para conduzir, e vi casais bem mais velhos, da minha idade por exemplo. E o interessante foi constatar o que se passa, e que me deixou completamente estupefacto. Enquanto ele conduz, ela vai ao lado, com um destes telemóveis do tamanho de uma tablete de chocolate a passar o dedo na coisa, muito provavelmente entretida na internet. Outras ainda tiravam fotografias... 

Bom, se calhar já toda a gente sabia disto menos eu.

Eric Pickersgill / Removed Social 
(figuras ridículas quando retiramos os telemóveis das fotografias)

Eu sei que sim, nos cafés, restaurantes, no trabalho, já ninguém conversa, estão todos feitos mortos-vivos, siderados, a olhar para aquela bugiganga. Mas os próprios casais? Num carro, num passeio de domingo? Então quando é que se conversa? Mais, quando é que param de olhar para a merda do telemóvel e olham um para o outro?

É que eu saí de uma relação há menos de um ano e felizmente não éramos assim. Aliás, o telemóvel era sempre um empecilho. Tanto as mensagens das amigas dela, que se serviam dela como uma espécie de Guru Espiritual, e precisavam da opinião dela, mesmo que tivesse acontecido uma coisa tão grave como lascar uma unha! ou no meu caso, os alertas da Vodafone que eu já estava farto de receber (e ela também) e entretanto cancelei mesmo a coisa.

Se estávamos um com o outro, aproveitávamos todo esse precioso tempo para estar realmente com o outro, sem interferências. Mesmo que fossem dez horas seguidas, parecia sempre tão pouco tempo, e ir cada um para sua casa, era sempre um suplício.
Então como é que os outros casais desperdiçam assim o tempo deles? Não seria melhor estarem sozinhos, sem o outro, ali a estorvar, para usarem tranquilamente a net? Eu sinceramente acho que mais valia.

E já agora quando estão a foder? Também vão atualizar o email ou ver o que se passa na rede social? Se calhar sim! "Olha, já que vamos mudar de posição, deixa-me ir aqui ver quantos gostos tem a cena que eu partilhei"! Dizia-me até um colega de trabalho, há não muito tempo (as coisas que eu não sei!) que andava por aí uma moda qualquer de tirarem uma foto depois de pinarem para colocarem no Facebook... Uau!

Por favor tirem-me deste planeta, arranjem-me outro só para mim, para eu ficar lá bem distante. É que é mau demais viver rodeado de outros seres humanos completamente alienados da cabeça.

sábado, 12 de março de 2016

Perfecionista ou velho chato?

Tenho pensado nisto ultimamente. Afinal, desde quando é que te tornaste perfecionista?

Lembro que quando andava na escola primária, a professora escrevia lá nas notas de avaliação: "metódico". Eu, como é lógico, ainda nem sequer saberia o que queria dizer aquela palavra. Mas por certo eu não era nada de especial, nada mais que os restantes colegas. Provavelmente ela escrevia isso em todas as notas de avaliação dos bons alunos!

Mas eu conheço-me. Sou desorganizado. Desarrumado. Por vezes quase desleixado. Mas também sei bem que há gente muito pior que eu! Não há por exemplo, equipamento nenhum que compre e avarie, e que eu não mande reparar porque não sei onde meti a garantia, e isso acontece a muito boa gente. Comigo certamente isso não acontece. Até de uns sapatos da Ecco em que a sola literalmente descolou fui reclamar com a fatura da compra e tive direito a outros novos. Tal como guardo todos os recibos de vencimento, faturas e papeladas para preencher o IRS, está tudo arquivado, desde o primeiro ano em que comecei a trabalhar. Sou uma espécie de desorganizado mas responsável!

Mas também sei muito bem que acumulo tralhas demais. Tralhas que já poderiam ter ido para o ecoponto ou papeis que poderiam ter ido para a lareira. Mas de vez em quando lá faço uma arrumação e mando umas quantas coisas para o lixo (e entretanto junto mais umas quantas!)
Digamos que, entre o paranóico com as limpezas, o obsessivo-compulsivo com as coisas todas direitinhas e arrumadas e o maior desorganizado de sempre, eu acho que estarei, talvez, a meio da tabela. E não é no meio que está a virtude?





Mas no trabalho, por vezes, dou por mim a surpreender-me tal é a minha vontade de organizar as coisas. E isto pode significar uma de duas coisas: ou o meu subconsciente acha que no emprego tenho de ser diferente do que sou em casa, afinal estou a ser pago pelo meu trabalho, ou então aquilo lá onde trabalho é uma casa a arder no que se refere à organização! E eu acho que é um pouco dos dois!

Mas ser extremamente organizado ou desarrumado não tem necessariamente a ver com querer fazer as coisas bem feitas Pode-se ser perfecionista e organizado ou perfecionista e desarrumado.

E aos poucos, como que saindo de mim mesmo e vendo-me a comportar no local de trabalho, tenho-me apercebido que sou cada vez mais exigente comigo mesmo (e com o trabalho dos outros) e só me satisfaço quando as coisas estão próximas da perfeição. E eu nem sempre fui assim. 

Também eu, em tempos, como grande parte das pessoas, fazia as coisas ao despacha-lá-isso-e-toca-a-andar ou se-não-ficar-bem-não-importa-desde-que-ninguém-saiba-quem-foi-que fez. Mas não sei a partir de que momento, comecei a querer fazer as coisas bem feitas e sou muito atento aos detalhes, muitas vezes muito importantes e que muita gente não liga.
Continuo a querer ser muito competitivo, como aliás sempre fui, mas agora, primeiro quero fazer bem e então depois sim, ser produtivo. Porque não interessa fazer muito, se as coisas ficam todas mal feitas. E além disso, como disse, ainda por cima chamo os outros à atenção para determinados pormenores, para que as coisas sejam feitas corretamente.

Não sei também se isto terá a ver com a idade ou com a maturidade. Mas estou em crer que uma coisa não tem a ver com a outra. Há pessoas jovens e desde sempre muito exigentes com o seu trabalho, e outras que podem durar cem anos que serão sempre abandalhadas, Não sei como é que cheguei aqui. Espero é que não me esteja a tornar só num velho chato!

sexta-feira, 11 de março de 2016

Nós havemos de nos ver os dois



Nós havemos de nos ver os dois
Ver no que isto dá
Ficar um pouco mais a conversar
Ter a eternidade para nós
Quem sabe jantar
Se tu quiseres, pode ser hoje...



Seja agora / Mundo pequenino /2013


Transferir dinheiro à moda antiga

Por estes dias passava pela caixa do correio, e tinha lá um envelope com um nome de uma mulher... Uma gaija escreveu-me? Mas afinal não era ninguém conhecida. E fiquei a olhar para aquilo e fiquei a pensar o que raio seria... Afinal, ainda por cima não tinha comprado nada recentemente. Até que, segundos depois, pensei "tu queres ver que aí dentro tem dinheiro"? Isto porque uma senhora tinha ficado de me pagar por uma compra, e pediu-me a morada para me pagar, mas eu pensei que fosse por vale postal ou algo que o valha.

Acariciei o envelope, e vi logo que o meu faro estava certo! Mas dificilmente alguém suspeitaria o que era. Só que eu ainda sou desse tempo, do tempo em que, quando queríamos comprar alguma coisa, principalmente vindo de fora, não tínhamos grandes alternativas, visto que os bancos roubavam valentes comissões por uma transferência internacional, muitas vezes esse valor era mais alto que o próprio artigo que queríamos comprar! E então um dos métodos mais práticos, era precisamente este, o de enviar dinheiro escondido por carta. 



Fi-lo muitas vezes e nunca tive qualquer problema. Lembro até uma negociação que certa vez fiz num site brasileiro em que, enviei metade do valor do artigo (100 dóllars) entretanto o vendedor enviou-me o artigo, e seguidamente eu enviei a segunda metade do valor. E tudo deu certo. 

Eu engendrava verdadeiras engenhocas para enviar o dinheiro, para que este fosse completamente imperceptível para quem quer que pegasse no envelope. 

Hoje em dia isso já não é preciso. As transferências nacionais (ainda) são gratuitas, e internacionalmente temos, por exemplo, uma coisa chamada Paypal. Mas relembro ainda com saudade, esses tempos, em que ia comprar dóllars à baixa do Porto, enviava-os por carta, ficava à espera que esta chegasse inteira ao destinatário, e só depois é que o vendedor procedia ao envio. 

Nessa altura, as coisas tinham um tempo próprio. Hoje os tempos são outros. Ainda assim, achei muito interessante, que nestes tempos em que pagamos para emprestar dinheiro aos bancos, haja quem transfira dinheiro à moda antiga. 

quarta-feira, 2 de março de 2016

Às escondidas no telemóvel

Da minha idade, acredito que tenha sido o último português a ter telemóvel, e agora que penso, apesar de ter tido uns quantos, nunca sequer comprei um novo, e o que ando agora até já tem mais de dez anos. E funciona lindamente.

Cartão também só tive um com um número. Nunca mudei de operadora, nem junca mudei de número de telemóvel, e confesso que às vezes não percebo muito bem, como é que há pessoas que passam a vida a mudar: "Agora o meu novo número de telemóvel é este". E eu, contrariamente ao que dizia a música, eu não mando os outros mudar de número, porque eu não mudo o meu.

Eu, por exemplo, tenho uma amiga, que conheço há uns seis ou sete anos, que já deve ter mudado umas três ou quatro vezes de número do telemóvel. E tudo bem, eu aceito que ser mulher talvez seja mais difícil, porque certamente o assédio será diferente. Contudo, sejamos mulheres ou homens, acho que o cuidado que temos de ter com o nosso número de telemóvel deve ser o mesmo, para precaver chatices futuras. 

Ainda assim muita gente terá o meu número de telemóvel. Ao longo dos tempos, diferentes pessoas passam pela nova vida, amizades que se fazem, pessoas que contactamos ou somos contactados, enfim, por diferentes motivos, muitas pessoas ficam com o nosso contacto telefónico. O que não invalida que eu não seja minimamente cautelosos. 




E se há coisa que me arrelia verdadeiramente é, e isto acontece ciclicamente, sei lá, de dois em dois anos, ou até menos, é receber mensagens de alguém que parece que nos conhece, mas que na verdade nós não reconhecemos o número. E essa é outras das coisas que costumo fazer, apagar números desnecessários da lista telefónica. Para quê ter a lista telefónica cheia de contactos que já não usamos? E pode-se até dar o caso de uma destas pessoas já ter sido nossa conhecida. Ainda assim, sinceramente eu duvido. 

E o que é que se faz numa situação destas? 
Nada. Absolutamente nada. Não se responde, não se alimenta a coisa. Qualquer pessoa decente quando quer alguma coisa diz ao que vem. Não diz simplesmente "Olá" ou "Bom dia" ou "Oi" durante cinco dias seguidos. 



Comentei com três ou quatro pessoas, mas curiosamente só uma era da minha opinião. "Fazes muito bem eu não responder, a pessoa que se identifique". Claro! Mas as outras pessoas acharam que eu deveria responder, que poderia estar até a julgar mal. Mas como posso estar a julgar mal se a pessoa simplesmente não se identifica? No meu entender, dali coisa boa não poderia vir, e como tal, nem sequer respondo. Mas eu acho que as pessoas que acham que eu deveria responder, dizem isso unicamente por curiosidade! As pessoas morrem de curiosidade!

E essa é a arma das pessoas que fazem este tipo de joguinho. Acham que vamos ficar a morrer de curiosidade em saber quem são, e depois dão-nos tanga. Não, comigo não dão! Dispenso engraçadinhos a jogar às escondidas no telemóvel. Mas acham o quê? Que tenho treze ou quatorze anos? E depois não ligando, acontece uma coisa fantástica, que é, a coisa perde a piada e as pessoas desistem. E o problema resolveu-se por si mesmo. 

terça-feira, 1 de março de 2016

(In)sensibilidades

Já não faltavam muitos minutos para sair e ela estava no vício, junto do portão, a deitar fumo pela chaminé. Não perdi a oportunidade de, discretamente, longe dos olhares e dos ouvidos alheios, de me ir lá meter com ela, afinal, agora mal falamos. E comecei pela pergunta retórica mas com um fundo de preocupação: - "Então, quando é que deixas de fumar"? 

Instantes depois, ela olha para mim diz?
- "Tu nunca pensaste em cortar o cabelo"?
Uiiii.. Então mas por acaso não cortar o cabelo faz mal à saúde?

E afinal onde é que ela quereria chegar com esta pergunta? Bem sei que não estava a apalpar terreno, pois até já sabia que agora, depois de quase ter tido de contratar uma secretária para gerir a sua agenda de gaijos que andam atrás dela, agora acabaram-se as preocupações: está apaixonada! Pior. Contrariamente ao que ainda me dizia há não muitas semanas, espera ser pedida em casamento em breve. Pois é, "nunca digas nunca". E claro que, discreto como sou, nunca lhe perguntaria se não era demasiado cedo para passar do "nem pensar em voltar a casar" para rapidamente ter conhecido alguém, e mesmo não tendo gostado dele ao início, já achar que é a melhor gota de orvalho da manhã, a ponto de fazer já de olhos fechados, o que já tinha dito que não voltaria a fazer. 

Mas fiquei intrigado. Afinal, porque raio, para uma mulher, a quem não aqueço nem arrefeço, se interessará por saber quando vou cortar o cabelo? E os pêlos públicos também interessa saber o comprimento que têm?


Stellan Skarsgård (King Arthur) 

Vamos analisar a frase: Nunca pensaste em cortar o cabelo? O que é que eu interpreto daqui? Se devo cortar é porque comprido (apesar de o ter cortado e ninguém ter reparado) me fica mal certo? Ou seja, no fundo a pergunta, sem usar vaselina ou lubrificante, assim mesmo à bruta, deveria ser: "Tu que estás tão feio, talvez se cortasses o cabelo ficasses com melhor aspeto".

Dizer-nos, ainda que indiretamente, que estamos mal não me parece assim lá muito abonatório para a nossa auto-estima. Mas isto é o tipo de observação que já nem sequer ligo. Já estou habituado. Eu não tenho cabelos compridos há meia dúzia de anos. Não foi uma fase, não foi para chatear os pais. Não. "Eu posso ter cara de puto mas já sou muito rodado". E eu já tive (e tenho) problemas de auto-estima que cheguem, para agora me importar minimamente com o que pensam ou deixam de pensar do tamanho do meu cabelo. Não gostam? Têm bom remédio. Deixem na bordinha do prato e depois deitam no saco do lixo que eu faço igual.

Mas mais interessante ainda, é o constatar que o mulherio, também ele - sim! - olha para os atributos masculinos, ou pelo menos para o embrulho. Dizem que não, que se sentem atraídas é pelo sentido de humor, ou que é a sensibilidade e a simpatia, ou o número de zeros da conta bancária, mas não só. Tal como os homens também elas também olham para o pacote. Obviamente - até porque têm dois olhos e não são cegas! E por vezes até olham ainda mais para as outras mulheres.
Mas se a maioria achará asqueroso, outras há que até acharão muita piada aos cabelos comprido, é como tudo, são gostos. E será que, assim por acaso, já pensaram que eu ando como bem me apetece? Se calhar não.

Depois por último constatar que não é só os homens a quem falta alguma sensibilidade. E não me venham dizer que não é falta de sensibilidade aqui no caso. Andarem-me sempre a perguntar quando é que vou cortar o cabelo, é o mesmo que chegar junto de uma mulher e perguntar:
"Olha lá, tu nunca pensaste fazer exercício para perder esse cu, que tem quase o tamanho da Rotunda da Boavista"? Muito sensível não é?