quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

Os últimos serão sempre os primeiros?

Duas mulheres, na casa dos vinte, perguntavam-me recentemente sobre o porquê dos homens quererem saber tudo sobre a vida íntima passada das mulheres. E isto deixou-me a pensar algum tempo. As generalizações são sempre injustas e por isso eu as detesto tanto. "Os homens são todos uns..."; "As mulheres são todas umas..."; "A amizade entre um homem e uma mulher é sempre..." 

Parece que as pessoas sabem tudo, sobre como todas as pessoas vão reagir em determinadas situações. "Porque ele é homem" ou "porque ela é mulher". No fundo parece que é tudo a preto ou branco. No fundo parece que todas as pessoas são iguais. E não são. Somos todos diferentes, apesar de uns mais iguais que outros. 

Não, eu quando me apaixonei pela primeira vez, e era um homem inexperiente no campo sexual (tinha era muita teoria!) não quis saber da rodagem da senhora. Se tinha um motor com zero quilómetros ou se pelo contrário já tinha virado o conta-quilómetros do avesso. 

Mas será que todos os homens nessa situação perguntam? 
"Tu já...? e como é que foi? e o que é que ele te fez? e em que botões te carregou? mudou o óleo e filtros? E meteu-te peças de origem ou de marca branca" E a quantas oficinas é que já foste? E já afinaste o motor com dois mecânicos ao mesmo tempo? 

Não. Não lhe perguntei nada. 
Mas digam-me - deveria ter perguntado? Parece que sim. Segundo estas duas mulheres os homens querem sempre saber tudo, e de forma muito detalhada. Será que eu não soube ser homem? Um homem como os outros todos que quer saber todos esses detalhes sórdidos. Para depois fazer o quê? Isso é o que eu queria saber. Para julgar? Ou se martirizar? Ou para saber se ela tem mais rodagem que ele? E isso é bom ou mau? É que também há homens especialmente atraídos por motores com a maior rodagem possível!

Mas o que está para trás, o que se fez com essas pessoas que ficaram para trás, que, ou porque nos magoaram, ou porque simplesmente as coisas não deram certo, interessa para alguma coisa? E vamos fazer o quê? Andar a comparar? "Ai a minha ex é que me mudava a correia de distribuição como ninguém. Tu devias fazer como ela!" Um conselho homens: nunca, mas nunca que tragam à baila a vossa ex. Nunca, mas nunca elogiem a vossa ex seja naquilo que for. Se eu o aprendi por experiência própria? Não. Não sou estúpido a esse ponto! Não. Eu não sou estúpido ao ponto de andar a tentar lembrar-me do que quer que seja que uma pessoa do meu passado bem longínquo me fazia ou deixava de fazer. E se fazia muito bem ou muito mal. Se estamos com alguém no presente é nessa, e só nessa pessoa que nos devemos focar. É a essa pessoa que nos devemos dedicar. 

Via Pinterest
E já agora sim, por experiência própria: a pessoa que mais vão amar nesta vida, não tem de ser necessariamente a pessoa que melhor sexo vos vai proporcionar. Pode acontecer, e se acontecer ótimo, dêem-se por muito felizes, mas podem muito bem, mais tarde, como no meu caso, descobrir que o sexo afinal poderia ser muito melhor. Mas isso não interessa nem muda nada. Não vão ter deixado de amar essa pessoa mais ou menos. Um sentimento não se mede por quantos malabarismos sexuais uma pessoa faz. Porque se não, se calhar, digo eu sem conhecimento de causa, mas então todos os homens apaixonavam-se pela puta a que mais recorrem - certo?
O amor é O amor, o sexo é  O sexo. E o sexo no amor para mim é o expoente máximo, e é o ideal de muitas outras pessoas, mas muitas outras acharão que o amor é só uma perda de tempo, um ritual para poder dar umas fodas. Visões diferentes de diferentes pessoas. Ninguém está certo ou errado, tão simplesmente, como dizia no início não somos todos iguais. 

Mas especulando um pouco sobre as pessoas perguntarem sobre as fodas passadas, eu acho que este fenómeno também pode estar associado às primeiras relações. Ou será que não tem nada a ver? Será que há pessoas que entram numa relação aos quarenta anos, várias relações falhadas depois, e querem saber o número de carburadores que já afinamos? Quantas, e o que fizemos com cada uma delas? Será que há pessoas assim? Não sei, mas quero acreditar que não.

E isto poderá ter a ver com quê? Saber se a outra pessoa teve mais sucesso que nós? Mas isto é uma competição? "Ela já pinou com 63 pirocas, duas conas e 23 brinquedos sexuais, ao passo que eu ainda só comi nove conas". Vamos comparar? Mas esperem lá, o ideal de grande parte das pessoas não era ficar com a mesma cona até que a morte a separe da minha piroca? E se eu estive dez anos numa relação com a mesma cona e esta minha nova companheira comeu uma data de salchichas nesse tempo? Isto não é absolutamente ridículo? Alguém se preocupa mesmo com isso?

O que eu acho é que não é o passado que é importante. O presente é que é importante. E é no presente que devemos sempre pensar. O nosso presente é o resultado do somatório de todo o passado que vivemos. Mas não existe futuro sem presente. Devemos sempre viver o presente. Pensar no futuro? Para quê? No futuro estamos todos mortos. 

É muito romântico querermos ser o primeiro da outra pessoa. E se isso acontecer devemo-nos sentir muito felizes por isso. Por aquela pessoa ter querido estar connosco. Idealmente grande parte das pessoas quereria ter podido ficar com aquela pessoa para sempre. Mas as coisas infelizmente não são ideias, raramente são como nós desejamos que fossem.  

Ser o primeiro é lindo, é muito simbólico. É lindo apaixonarmo-nos por alguém que é virgem como nós, e que connosco decide entregar-se pela primeira vez. É verdadeiramente muito especial e romântico. Mas com o tempo, com as várias desilusões e frustrações por que passamos, a nossa visão vai mudando. Não quer dizer que nós mudamos, mas simplesmente adaptamo-nos a novas realidades. Temos de nos ajustar. Talvez um dia percebamos que já não queremos ser o primeiro, queríamos mesmo era ter podido ser o último.

P.S: E pode parecer um paradoxo, mas pensando na resposta à pergunta destas duas mulheres, apercebi-me de uma coisa interessante: apesar de ser homem, sei muito mais sobre a cabeça das mulheres do que da dos homens. Curioso não é?

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