domingo, 29 de novembro de 2015

Somos da idade que parecemos

Há coisas mesmo muito interessantes... Como numa só semana vários acontecimentos, coincidentemente,  se interligam entre si à volta do mesmo tema e eu consigo ter diferentes ângulos de visão: desde logo o meu mas também dos outros.

A meio da semana na capa do Jornal I: "A crise da meia-idade existe mesmo e a fase negra é entre os 40 e os 42". 


"Estou fodido" pensei. 

Eu a pensar que só as mulheres quando entravam nos 40 é que tinham preocupações, com as intermitências do relógio biológico, as hormonas aos saltos e a chegada da menopausa. 
Já não basta a crise nas carteiras, a crise do país - que já vem pelo menos já desde a terramoto de 1755 - a crise na índole dos políticos, e quer dizer, estou a um passo de enfrentar outra crise, agora esta existencial? Já não há pachorra para tanta crise, nem para notíciazinhas de treta nas capas dos jornais. Não sabem encher chouriços com notícias positivas!?

Entretanto no dia seguinte uns sujeitos iam passar pela empresa para dar uma formação, que depois afinal parece que era só para saber das necessidades dos trabalhadores (eu não sou colaborador, eu trabalho, não colaboro ok?) para então se proceder à dita formação. 
E eis se não quando, enquanto eu e os meus colegas comíamos descansadamente na pausa a meio da manhã, irrompe pela copa adentro a colega que esteve com eles, completamente em pânico a dizer, que aquelas pessoas estão completamente diferentes:
- "Eles não são os mesmos"! 
Eu até pensei "queres ver que os gaijos foram raptados por extra-terrestres em discos voadores"? Diferentes como? Mas depois lá percebi.
- "Eles não são os mesmos"! e dizia isto, completamente chocada, enquanto colocava as mãos na cara, como que tentando perceber, o quanto terá envelhecido também ela, nesse espaço de tempo que não os viu. 
- Mas há quanto tempo foi isso"? perguntei.
- Eu só cá estou desde 2012!

Nova conversa, de novo na copa e novamente sobre o mesmo tema.

Fala-se de idades, com os meus colegas mais novos que ainda nem entraram nos trinta!, a queixarem-se de como o tempo passa depressa, disto e daquilo e como vai ser no futuro e tal e coisa. 
E eis se não quando, eu caio na asneira de me virar para uma colega, só quatro anos mais nova, e uso a expressão "da nossa idade"! Pois de imediato ela reclamou que não é nada da minha idade! De facto quatro anos faz toda a diferença. Quando eu chegar aos 100 ela só terá 96. Certo!

Mas é muito interessante, que eu, coerentemente, já usei a mesma terminologia "da nossa idade" com outra colega, esta 3/4 anos mais velha e também ela, coerentemente, diz que não somos nada da mesma idade! E neste caso ela sente-se  já velha, apesar de como eu, não parecer nada a idade que tem. Eu creio que será o peso do número... ou então queres ver que estará ela mesma a passar pela tal crise da "meia-idade"? Ò diabo!

E já no final da semana comecei com um novo livro do Aldous Huxley, livro de que nada sabia, comprei usado, baratinho, por ser deste autor, e já bem velhinho e tudo. E olho para a dobra da capa que resume o tema abordado no livro e fico a saber que aborda precisamente a morte:

"O problema da morte, questão obsessivamente que o homem enfrenta desde que alcançou a faculdade de pensar, e a exploração do que é objeto na sociedade moderna de consumo são retratados neste romance com um sarcasmo impiedoso e cáustico."

"Os bosques apodrecem e extinguem-se 
A nuvem desfaz-se em chuva sobre o solo
E o homem lavra a terra, e sob a terra jaz ,
E após muitos verões também o cisne morre."

E depois olho para a primeira página e vejo a data da assinatura - um ano depois de eu ter nascido - e penso como este livro, já velhinho, amarelecido e oxidado pelo tempo, e eu, teremos a mesma idade. " Se eu tivesse nascido um livro, hoje também estaria assim, amarelecido e oxidado pelo tempo." 

Mas depois lembro-me também, como ainda há alguns dias, novamente mais uma pessoa ficava como que escandalizada quando soube da minha idade. "Eu dava-lhe uns vinte e cinco"! Acho que vou então fazer de conta que somos da idade que parecemos... Se pareço que tenho vinte e cinco, tenho mesmo vinte e cinco não é? e assim ainda me faltam quinze anos para a tal crise existencial da meia-idade! 

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