domingo, 29 de novembro de 2015

Nunca me deixes II


E acabou
Estou-me a afundar
Mas não estou a desistir!
Estou só a deixar-me ir

Oh deslizando para fundo
Oh tão frio, mas tão doce


Never let me go / Ceremonials / Florence + the Machine / 2012

Somos da idade que parecemos

Há coisas mesmo muito interessantes... Como numa só semana vários acontecimentos, coincidentemente,  se interligam entre si à volta do mesmo tema e eu consigo ter diferentes ângulos de visão: desde logo o meu mas também dos outros.

A meio da semana na capa do Jornal I: "A crise da meia-idade existe mesmo e a fase negra é entre os 40 e os 42". 


"Estou fodido" pensei. 

Eu a pensar que só as mulheres quando entravam nos 40 é que tinham preocupações, com as intermitências do relógio biológico, as hormonas aos saltos e a chegada da menopausa. 
Já não basta a crise nas carteiras, a crise do país - que já vem pelo menos já desde a terramoto de 1755 - a crise na índole dos políticos, e quer dizer, estou a um passo de enfrentar outra crise, agora esta existencial? Já não há pachorra para tanta crise, nem para notíciazinhas de treta nas capas dos jornais. Não sabem encher chouriços com notícias positivas!?

Entretanto no dia seguinte uns sujeitos iam passar pela empresa para dar uma formação, que depois afinal parece que era só para saber das necessidades dos trabalhadores (eu não sou colaborador, eu trabalho, não colaboro ok?) para então se proceder à dita formação. 
E eis se não quando, enquanto eu e os meus colegas comíamos descansadamente na pausa a meio da manhã, irrompe pela copa adentro a colega que esteve com eles, completamente em pânico a dizer, que aquelas pessoas estão completamente diferentes:
- "Eles não são os mesmos"! 
Eu até pensei "queres ver que os gaijos foram raptados por extra-terrestres em discos voadores"? Diferentes como? Mas depois lá percebi.
- "Eles não são os mesmos"! e dizia isto, completamente chocada, enquanto colocava as mãos na cara, como que tentando perceber, o quanto terá envelhecido também ela, nesse espaço de tempo que não os viu. 
- Mas há quanto tempo foi isso"? perguntei.
- Eu só cá estou desde 2012!

Nova conversa, de novo na copa e novamente sobre o mesmo tema.

Fala-se de idades, com os meus colegas mais novos que ainda nem entraram nos trinta!, a queixarem-se de como o tempo passa depressa, disto e daquilo e como vai ser no futuro e tal e coisa. 
E eis se não quando, eu caio na asneira de me virar para uma colega, só quatro anos mais nova, e uso a expressão "da nossa idade"! Pois de imediato ela reclamou que não é nada da minha idade! De facto quatro anos faz toda a diferença. Quando eu chegar aos 100 ela só terá 96. Certo!

Mas é muito interessante, que eu, coerentemente, já usei a mesma terminologia "da nossa idade" com outra colega, esta 3/4 anos mais velha e também ela, coerentemente, diz que não somos nada da mesma idade! E neste caso ela sente-se  já velha, apesar de como eu, não parecer nada a idade que tem. Eu creio que será o peso do número... ou então queres ver que estará ela mesma a passar pela tal crise da "meia-idade"? Ò diabo!

E já no final da semana comecei com um novo livro do Aldous Huxley, livro de que nada sabia, comprei usado, baratinho, por ser deste autor, e já bem velhinho e tudo. E olho para a dobra da capa que resume o tema abordado no livro e fico a saber que aborda precisamente a morte:

"O problema da morte, questão obsessivamente que o homem enfrenta desde que alcançou a faculdade de pensar, e a exploração do que é objeto na sociedade moderna de consumo são retratados neste romance com um sarcasmo impiedoso e cáustico."

"Os bosques apodrecem e extinguem-se 
A nuvem desfaz-se em chuva sobre o solo
E o homem lavra a terra, e sob a terra jaz ,
E após muitos verões também o cisne morre."

E depois olho para a primeira página e vejo a data da assinatura - um ano depois de eu ter nascido - e penso como este livro, já velhinho, amarelecido e oxidado pelo tempo, e eu, teremos a mesma idade. " Se eu tivesse nascido um livro, hoje também estaria assim, amarelecido e oxidado pelo tempo." 

Mas depois lembro-me também, como ainda há alguns dias, novamente mais uma pessoa ficava como que escandalizada quando soube da minha idade. "Eu dava-lhe uns vinte e cinco"! Acho que vou então fazer de conta que somos da idade que parecemos... Se pareço que tenho vinte e cinco, tenho mesmo vinte e cinco não é? e assim ainda me faltam quinze anos para a tal crise existencial da meia-idade! 

sábado, 28 de novembro de 2015

Sem tirar nem pôr

Sempre achei que devo ter a cara mais banal do mundo, pois desde adolescente que há sempre alguém a comparar-me com outra pessoa, que sou mesmo muito parecido com não sei quem.

E nos últimos dias isto voltou a acontecer.

Na última caminhada que fiz, faz hoje uma semana, ia eu a caminhar tranquilamente só nos meus pensamentos (que são sempre muitos) quando de repente uma senhora se aproxima de mim e pergunta-me:

- "O senhor não se chama Fernando"?

Esta senhora, professora da secundária, achava que eu tinha sido seu aluno.

- "Até a sua voz é igual. Sei que ele depois foi estudar artes para o Soares dos Reis no Porto. Ele tinha um irmão gémeo, mas há muito que não sei o que é feito deles".

(Depois fiquei a refletir como será interessante para os professores, imaginarem como serão aqueles jovens no futuro.)

Entretanto a meio da semana:

Olhando fixamente para a minha barba, como se ela tivesse crescido da noite para o dia, o patrão estabelece uma comparação que me surpreende:

- "Tu pareces aquele vocalista daquela banda...aquele tipo que tem uma pêra enorme"...

Eu tento ajudar:

- O baixista de System of a Down?


Shavo Odadjian, baixista da banda System of a Down

De facto nunca me tinha ocorrido. É que é, sem tirar, nem  pôr. 

O peixe já não morre pela boca

"Pela boca morre o peixe" diz o ditado popular. 

Mas diz mal. Esta expressão está completamente desatualizada e merecia ser reformulada. 

Porque o peixe hoje em dia mal abre a boca para falar. 

O peixe agora usa os dedos para comunicar. É ver as pessoas em todo o lado, no restaurante, na esplanada do café todas de boca fechada. Comunicam sim mas com os dedos. 




E muito se fala com os dedos. Dizem-me que até há relações que acabam nas pontas dos dedos, seja no computador seja no telemóvel, seja noutra bugiganga eletrónica qualquer. 

Dizem-me que as palavras têm outra dimensão, muito maior, quando escritas, bem diferente do cara-a-cara. Mas as palavras ditas não são exatamente as mesmas palavras, que as palavras escritas? Bom, talvez a diferença esteja na forma como se quer interpretar a mensagem. E para quem não quer interpretar mal ou ser mal interpretado, pode sempre falar pela boca e não usar tanto os dedos não é? Relações-que-se-acabam-pelos-dedos. Isso faz-me pensar no que a humanidade se está a tornar. 

Bom, poderíamos dizer então que "o peixe morre pelas barbatanas" porque os peixes não têm dedos. Mas os peixes são pescados pela boca. Não fazia muito sentido não é?

Eu também não sou inventor de ditados populares, mas uma coisa é certa: cada vez menos o peixe morre pela boca.Tão simplesmente porque se usa agora muito mais os dedos para falar.

quarta-feira, 25 de novembro de 2015

Nunca cheguei a beijar-lhe os joelhos

10 de Janeiro
(...)
Contou-me então a sua história com a mulher dum amigo: ao fim de um mês, decidiram acabar, conscientes de que não deveriam.
- Foi a única coisa grandiosa da minha vida. Não que me sentisse apaixonado, ela também não se apaixonara por mim. Mas era bom, aquilo poderia ter prosseguido por muito tempo. E foi somente por dever que renunciámos, Bonito, heróico, hem? - Pretendia falar com um certo cinismo. - Ainda hoje me parece espantoso, um indivíduo como eu! Mas é verdade! E o mais incrível é que nenhum de nós se sentia em pecado, compreendes? - Eu achava graça à palavra pecado na boca de um ateu. - Não enganávamos o marido, eu era sinceramente amigo dele. No entanto... Isto: ele viria a sofrer se soubesse o que se passava. Pronto.
- Cansaram-se um do outro, foi o que foi.



- Não, pelo contrário. E ficaram muitas coisas incompletas. Por exemplo, só ontem me lembrei: nunca cheguei a beijar-lhe os joelhos. Se soubesses como esse pequeno pormenor, este pequeno nada que não cheguei a fazer, me dói... Às vezes penso que vou quebrar todas as minhas decisões só para lhe beijar os joelhos, depois talvez fique enfim repousado... Mas não... Deitámo-nos duas vezes, compreendes? Não conseguimos, apesar de tudo, vencer uma certa timidez, há dezenas de coisas que não fizemos, e me queimam a existência só porque não as fiz. - Tirara o anel do dedo, brincava com ele em cima do tampo da mesa. - Seja como for, não voltamos a trás, acabou-se.
Não sei porquê, senti-me subitamente esse marido e perguntei-lhe com ar natural, como se de nada suspeitasse:
- Conheço-o?
Hesitou (ou pareceu hesitar), disse:
- Não. - Insistiu: - Que milagre fará um bicho como nós suspender um prazer só porque...? Não é espantoso? - Olhava para mim, muito sério, como se quisesse dar-me a entender que desistira, e estava disposto a morrer sem lhe beijar os joelhos. Que com esse gesto demonstrava por mim uma amizade profunda.

Bolor / Augusto Abelaira / 1968

Nada dura para sempre...

(porque infelizmente)

"Nada dura para sempre...

... nem mesmo a chuva fria de novembro"



(e no entanto)

"Não achas que precisas de alguém?
Toda a gente precisa de alguém?
Não és a única"

"November rain" / Guns N' Roses / 1992

domingo, 22 de novembro de 2015

Pelo direito a comer uma salada

Vivemos numa sociedade cheia de pré-conceitos e hábitos generalizados, como se toda a gente tivesse de gostar ou de se comportar da mesma forma. E a coisa começa logo no berço. 
Ninguém sabe porquê, mas os meninos que têm uma pilinha vestem-se de azul; as meninas, essas nascem com uma ratinha e vestem-se de cor-de-rosa. Às meninas deixa-se crescer o cabelo, mas aos meninos, apesar deste crescer de igual forma, e também ninguém sabe muito bem porquê, mas corta-se também, porque... Lá está, na verdade também ninguém sabe porque o faz, mas como vivemos num mundo, em que se anda por ver andar os outros, e em que pensar dá muito trabalho, então também temos de cortar o cabelo aos meninos para não serem diferente dos outros. Que é que ainda iriam pensar!? Que somos uns pais anormais? Deus nos livre e guarde de sermos diferentes dos outros! E deve ser por isso que todos presumem que gostamos todos do mesmo, mas não, nem todos gostamos do mesmo. 

freeimages.com


Ontem num restaurante:

Eu: Esta salada tem vinagre?
A empregada (de voz grossa e ríspida:
- "Tem".
Eu até estava ali junto de pessoas que nem conhecia, não quis, pronto, sabem como é, dar uma de pessoa conflituosa e mal disposta, porque se estivesse sozinho ou na companhia de conhecidos, ela de imediato iria levar com um:
- "Pois então traga-me uma sem vinagre faz favor". 

Tudo isto porque os restaurantes devem acreditar que toda a gente gosta das saladas empestadas de azeite, vinagre, sal, ou outros molhos que decidam para lá meter. Mas não, há pessoas como eu, que odeiam vinagre. E então, como o meu dinheiro vale tanto com as pessoas que gostam de vinagre, há uma coisa muito simples que se poderiam fazer, que era, colocar os molhos à parte, e cada um tempera a sua salada como lhe apetecer. Ou então perguntavam. Também não perguntam se queremos o bife bem passado, mal passado ou assim-assim? Se não depreendem que todos gostam do bife da mesma maneira, por que raio é que assumem que todos gostam da salada gordurosa e a saber a vinagre hein? 

quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Fodes-me ou queres que chame a polícia?!

Eu nem sou de ler notíciazinhas da treta. Por norma entro num ou outro site dos jornais (para estar minimamente informado pois não tenho televisão) e faço a ronda pelas notícias, e até raras são as vezes em que abro uma notícia, muito menos aquelas notíciazinhas da treta, sensacionalistas, e que agora nem sequer desvendam a notícia, para levar as pessoas a abrir se quiserem saber mais. Não sou desses, quero informação, não quero lixo sensacionalista.

Mas desta vez abri uma exceção à regra e resolvi entrar para ler mais. O título era este:

"Chamou a polícia porque o homem lhe recusou sexo".

O caso passou-se em Gaia, num casal, ela com 48 ele com 60 anos. Mas do ponto de vista da notícia encontramos logo, além de dados contraditórios, coisas importantes que ficaram por explicar para melhor compreendermos o drama desta mulher (e deste homem também!). Vamos aos factos. Primeiro ficámos a saber que:

- A mulher apanha o marido a ver porno e logo em seguida "exigiu" que este interrompesse a sua sessão recreativa, que deixasse de consolar a vista, e tratasse mas é de a consolar a ela.

Mas logo em seguida há a primeira contradição do Jornal de Notícias, que começa por dizer no título que a mulher chamou a polícia porque o homem se recusou a piná-la, para logo em seguida, no corpo da notícia, dizer que ela disse à Polícia de Segurança Pública que:

- "...o homem não a conseguiu satisfazer sexualmente e por isso ficou irritada com ele"

Mas afinal, ele recusou-se a foder ou fodeu mas teve uma má performance? É que são coisas completamente diferentes! Que raio de jornalismo é este de trazer por casa?! 

Mas mais abaixo o JN reva-nos mais detalhes:

"Tudo terá começado cerca das 3.30 horas, no passado fim de semana, com a mulher a acordar e a surpreender o homem a ver um filme pornográfico. Depois, terá satisfeito sexualmente o companheiro e solicitado que ele procedesse de igual forma para com ela. Mas o homem disse estar cansado e não atendeu ao pedido da companheira. Seguiram-se alguns desentendimentos entre o casal, que acabariam com a mulher a ligar para os Sapadores de Gaia e para a PSP a alertar para uma situação de violência doméstica."




Ora bem, mais uma vez há muito por esclarecer. Três e meia da madrugada e um homem de 60 anos a ver pornografia. Bem, deve ser bem mais educativo que estar nas redes sociais! Vai daí é surpreendido pela mulher que o "satisfaz"... Mas ao satisfazê-lo não se satisfez a si própria também? A ponto de exigir mesmo da parte dele? Lá está, a notícia é muito vaga e sem detalhes importantes!

Depois, irritada, a mulher acaba por ligar para a Polícia. Mas para quê, é o que ficou por dizer! Para pedir uma indemnização por foda incompetente ou para foder com os agentes que chegaram ao local? Mais uma vez o jornal é omisso!

Como desculpas, o homem disse que estava cansado (as dores de cabeça são para as mulheres) e que estava com sono. Mas às 3h30 da manhã estava a ver porno. E interessava saber porquê! Estava com tesão e pensava auto-recrear-se, ou estava com insónias e resolveu ocupar o tempo? Nada sabemos também nada sobre isso. 

Independentemente das contradições e omissões, uma coisa é certa, a vida parece estar a complicar-se para os homens! As mulheres para ir ao "sacrifício" não é preciso muito, abrem as pernas, pensam no episódio da novela do dia seguinte, e passados três minutos - bem menos que o sacrifício de ir ao dentista! - e já estão despachadas. Os homens já não é bem assim! Não basta abrir as pernas, ah pois, e mais, se as coisas não correm bem, elas chamam a polícia e nos acusam de maus tratos e violência doméstica! 

quinta-feira, 12 de novembro de 2015

Dúvidas Existenciais - Tapar as Matrículas

Há coisas que me intrigam. 

Tenho andado a sondar um determinado tipo de veículo - não, claro que não estou a pensar desfazer-me do meu cavalo preto. Era o que havia de faltar! - Alguém está a imaginar o Lone Ranger sem o seu Silver? Ou o Lucky Luke, o cowboy que dispara mais rápido que a própria sombra, sem Jolly Jumper "o cavalo mais esperto do mundo"? Não pois não?! Pois, tal como a mim, já ninguém me está a imaginar, sem os meus longos cabelos loiros ao vento e a galope do meu cavalo preto! "Não serias tu" já me disseram.

Mas como dizia, há coisas que me intrigam, e a mais recente, é o facto de quase toda a gente fotografar os seus carros que quer vender, mas depois tapam a matrícula! Mas porquê? Isso é o que eu gostava de saber. Eu estou em crer que as pessoas nem sequer se questionam. Como andam no mundo por ver andar os outros, simplesmente fazem o que vêem os outros fazer. E se alguém se lembrou de ocultar a matrícula, então será bom eu ocultar também. "Pelo sim pelo não..."

Mas no dia-a-dia ninguém tapa as matrículas dos carros pois não? Nem mesmo quando passam pelas novas auto-estradas, aquelas que antes eram gratuitas para o utilizador, mas que depois passaram a ser pagas, e ainda mais caras que as outras, as que têm portagens. Ninguém oculta as matrículas no dia-a-dia, porque até dá multa! Aliás, não ter luz de matrícula já dá multa!


Espera. É por causa da privacidade dizem. Pois deve ser isso deve. 
Os portugueses em geral prezam muito a sua privacidade. Só usam é o seu nome pessoal em tudo que é sítio da net, e deixam a morada e o número de telemóvel nos anúncios onde vendem os carros. Depois nas redes sociais dizem quando vão de férias e quando chegam. Tiram mil-e-uma-fotografias a si mesmos, e contam todos os peidos que dão, e ainda aqueles vão dar brevemente. Mas os portugueses são extremamente zelosos da sua privacidade claro, mas tão zelosos que depois ocultam as matrículas dos carros quando os colocam à venda. 

A mim o que me dá a entender, é que, quem não deve não teme. E quem tapa as matrículas, é porque tem algo a esconder, e pela matrícula podemos saber, por exemplo, junto de uma seguradora, se o carro já foi acidentado ou não.  E não me parece que seja para preservar a sua privacidade. Ou então, não têm mesmo nada a esconder e são só parvos. 

quarta-feira, 11 de novembro de 2015

segunda-feira, 9 de novembro de 2015

Vem como tu és


"Vem como tu és, como tu eras
Como eu quero que tu sejas
Toma o teu tempo, mas despacha-te
A escolha é tua, mas não te atrases"


"Come as you are" / Nevermind / Nirvana (cover de Yuna) 1992

domingo, 8 de novembro de 2015

Descubra as diferenças...


Que é que se retira daqui destas imagens forjadas?



- Primeiro: Fazer musculação combate a calvíe. Boa! Finalmente foi descoberta a cura para a queda de cabelo masculina! Os carecas vão já todos começar a fazer musculação para voltar a ter uma cabeleira farta!

- Segundo: Se por um lado, fazer musculação faz crescer cabelo na cabeça, por outro fá-lo cair no peito e na barriga! Espetacular! Se cair também nas axilas e genitais, o mulherio todo vai já começar a fazer musculação, pois assim evita a idas aos centros de estética!

Haja paciência. - Será que há mesmo alguém, uma única pessoa no mundo, que clica nestas publicidades?

Oficinas: a verdadeira selvajaria

Estou em crer que hoje em dia, encontrar um bom mecânico, ou uma boa assistência técnica, é quase mais difícil que encontrar um bom dentista ou um bom médico de outra qualquer especialidade. E por bom mecânico, quero dizer, bom profissional, que sabe mexer onde deve e deixar um trabalho bem feito, e não ter de andar às apalpadelas - tipo um amante inexperiente - e dar cabo de umas coisas, até finalmente encontrar o sítio certo onde enfiar a chave.

Mas depois há os que sabem ir ao sítio certo, mas têm a mania que são espertos, aquela esperteza saloia tão típica de Portugal, em que se mete uma peça já usada e se cobra o valor de uma nova, ou se arranja aqui mas se tira uma peça dacolá para outro carro, ou se arranja aqui mas avaria-se acolá. Ainda hoje estou sem perceber como é que falta uma tampa da ótica dos médios - teria sido na Norauto onde deixei para trocar lâmpadas? Sim, porque no meu carro, para trocar um simples médio é preciso desmontar rodas e mais não sei o quê! (Na verdade depois de ter esfarrapado os braços, acho que agora já sei como fazer, e sem demorar duas horas).

Quem tem um carro, como a maioria das pessoas hoje em dia tem de ter para se deslocar, tem sempre várias opções para fazer as manutenções de X em X quilómetros no seu veículo:
- Ir à marca mas já sabe que pode inchar valentemente
- Ir às oficinas (supostamente) de baixo-custo, que floresceram mais que as lojas de Ouro
- Ir ao mecânico lá do bairro que até parece ser um amigalhaço e em que as faturas é coisa dos domínios do imaginário.
- Ou fazer o trabalho sozinho em casa, e se não souber muito bem como, pode-se sempre ir ao Youtube ver uns vídeos na esperança de tentar não destruir o carro!


freeimages.com

Ora bem, eu como não me quero habilitar a fazer o trabalho sozinho - apesar de me parecer que fazer uma revisão, em que se muda óleo e filtros não deve ter grande sabedoria - pago para me fazerem o trabalho. E o meu bólide estava agora com 150 mil Km. Então o que é que eu fiz? Pedi vários orçamentos pois acho que é o que de mais sensato há a fazer, e fi-lo para as oficinas o mais perto possível do local de trabalho, para se possível, deixar lá o carro de manhã e depois passar para ir buscar. Os resultados não deixam de ser, sem dúvida, assombrosos! 

- Primeiro orçamento, simulado no site da Midas que garante 40% mais barato que a revisão da marca. Quarenta por cento é muito dinheiro pensei. Então a brincadeira lá ficava por 170€

- Segundo orçamento, na Bosh Car Service, oficina que genericamente ouço toda a gente (bem ou mal) dizer bem, solicitado por e-mail: 190€.

Nem quero pensar quanto é que a marca me iria cobrar!

Pois é, na marca, são 95€.

Feitas as contas, na marca paguei menos 45% que na oficina que diz fazer 40% mais barato que na marca! Dá para entender? Não, mas o que é que isso interessa? Vale tudo, menos arrancar olhos. 

sábado, 7 de novembro de 2015

Eu dava-te os Parabéns...

Se eu tivesse o teu número de telefone, hoje, podia-te ligar para te dar os parabéns. E nem precisávamos ficar cinco horas ao telefone - até porque parece que faz mal à saúde não é? - mas podia-te ao menos perguntar como é que tu estás e como é que vai a tua vida. Se aqueles problemas todos - que podiam dar um belo argumento de novela da noite - já foram ultrapassados. E podia-te perguntar se ainda sonhas em sair da agitação da cidade, porque sei que para ti, (tal como para mim) a felicidade está nas pequenas coisas, e se ainda sonhas ter o teu próprio negócio, mas num sítio tranquilo, rodeado pelos cheiros de alfazemas e outras plantas aromáticas.

E eu podia fazer um pouco de conversa - e bem sabes que comigo não há direito a silêncios constrangedores - e dizer-te, que ainda por estes dias, as minhas colegas de escritório, me faziam lembrar as conversas que me contavas das tuas colegas de escritório... É verdade! Quando por estes dias ouvia "O meu marido até ficou contente quando decidimos ter outro filho" lembrei-me logo do pavor das tuas colegas e dos "Hoje  acho que não devo conseguir fugir ao castigo"!

Ou podia simplesmente enviar-te um e-mail. Mas tu já não recebes e-mails nos endereços que me deste...

Bom, poderia sempre escrever-te uma carta. Ah, como era tão fixe quando escrevia cartas, e quando as recebia também. Acho que hoje em dia já ninguém escreve nem recebe cartas pelo simples prazer de as escrever e de as ler. Acho que me sinto velho só de pensar nisso! Os putos hoje em dia nem devem saber o que é um selo, quanto mais passar-lhes a língua delicadamente - assim mais ou menos quase como lhe estivéssemos a fazer um minete - e colá-los no envelope com a saliva. Só tal ideia deve-lhes causar repugnância, como se fosse coisa do tempo dos homens das cavernas, tempos em que ainda não se tinha ainda internet nem telemóvel, e não se acordava de noite, só para ir ver a rede social. O horror que deveria ser viver nesses tempos!
Pois é, mas não poderia enviar-te uma carta... porque não sei onde moras.   

Eu hoje até de dava os parabéns, se tivesse como o fazer. 

Admirável Mundo Novo - Pré-Condicionamento

"...estão todos vestidos de verde", disse uma voz doce, mas clara, começando no meio de uma frase, "e as crianças Deltas estão vestidas de caqui. Oh não, não quero brincar com as crianças Deltas. E os Epsilões são ainda piores. São tão estúpidos que nem sabem ler ou escrever. E, além disso, estão vestidos de negro, que é uma cor ignóbil. Como estou contente por ser uma Beta."
Houve uma pausa. Depois a voz recomeçou:
"As crianças Alfas estão vestidas de cinzento. Elas trabalham muito mais que nós, porque são formidavelmente inteligentes. De facto, estou muito contente por ser um Beta, pois não trabalho tanto. E, depois, somos muito superiores aos Gamas e aos Deltas. Os Gamas são patetas. Estão todos vestidos de verde e as crianças Deltas estão vestidas de caqui. Oh, não, não quero brincar com as crianças Deltas. E os Epsilõe são ainda piores. São tão estúpidos que nem sabem..."
O Diretor pôs o interruptor na primitiva posição. A voz calou-se. Apenas o longínquo fantasma continuou a murmurar debaixo dos oitenta travesseiros. 
- Ouvirão isto repetido ainda quarenta ou cinquenta vezes antes de acordar; depois novamente na quinta-feira: e igualmente no sábado. Cento e vinte vezes, três vezes por semana, durante trinta meses. Em seguida passarão a uma lição mais avançada.





- Rosas e descargas elétricas, o caqui dos Deltas e um cheiro a assa-fétida, ligados indissoluvelmente antes que a criança saiba falar. Mas o condicionamento que não é acompanhado por palavras é grosseiro e inteiriço. É incapaz de fazer  conhecer as distinções mais delicadas, de inculcar as mais complexas formas de conduta. Para isso são necessárias palavras, mas sem nexo. Enfim, a hipnopedia, a maior força moralizadora e socializadora de de todos os tempos. 


Os estudantes garatujaram isto nos seus cadernos. O conhecimento colhido diretamente na sua origem.
O Diretor carregou novamente no interruptor.
"...são formidavelmente inteligentes", dizia a voz doce, insinuante, infatigável. "De facto, estou muito contente por ser um Beta, pois..."
Não exatamente como gotas de água, se bem que a água seja capaz de, lentamente, perfurar o mais duro granito, antes como gotas de lacre líquido, gotas que aderem, se incrustam, se incorporam a tudo em que caem, até que, finalmente, a rocha nada mais seja que uma única massa escarlate. 
- Até que o espírito da criança seja essas coisas sugeridas e que a coma dessas coisas sugeridas seja o espírito da criança. E não apenas o espírito da criança, mas igualmente o espírito do adulto, e para toda a vida. O espírito que julga, deseja e decide, constituído por essas coisas sugeridas. Mas todas essas coisas sugeridas são aquelas que nós sugerimos , nós!
- Com entusiasmo, o Diretor quase gritou. - Que o Estado sugere. Deu um murro sobre a mesa mais próxima . - Disto resulta por consequência...
Um ruído fê-lo voltar-se.
- Oh Ford! disse, noutro tom. - Então não acordei as crianças!?

Capítulo Segundo / Admirável Mundo Novo / Aldous Huxley / 1932

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Já não sei bem ao certo. Mas acho que comecei a ler este livro teria entre 15 e 17 anos... por aí. E sei que não o cheguei a acabar. Aconteceu-me o que acontece a muita boa gente, simpática como eu, que decide emprestar as suas coisas, mas que depois infelizmente estas não fazem o caminho de volta. E como eu sempre detestei emprestar coisas que depois não voltavam. Sei que fiquei sem alguns livros e sem alguns discos além de outras coisas mais, à custa de não querer dizer que não, e isto porque as pessoas não sabem o que significa a palavra emprestar.  
Mas sei muito bem que gostei de livro pois não mais o esqueci, e quase tinha prometido a mim mesmo, que um dia ainda o haveria de o ter e de ler, desta vez até ao fim. E foi por isso, por ter gostado do livro, que voltei recentemente ao autor, e peguei no Contraponto, e entretanto já li outras coisas, e até devo receber por estes dias outro livro dele. Provavelmente voltarei a citar excertos deste livro, por certo para falar da personagem "multi-resistente" da obra, que se questiona acerca da sociedade onde vive, sociedade esta do futuro, imaginada por Huxley, e que tantas semelhanças tem com a atual, em que vivemos neste momento. 

quarta-feira, 4 de novembro de 2015

Vem para mim



Vem para mim
Eu cuidarei de ti
Proteger-te-ei
Calma, sossega
Estás exausta
Não tens de explicar
Eu entenderei...


"Come to me" / Debut / Börk / 1993


segunda-feira, 2 de novembro de 2015

Mais de cem milhões de carneiros

Agora todos os dias é sempre a mesma coisa. A Microsoft lembra-se de me avisar que posso fazer, gratuitamente - e quando a oferta é muita o santo desconfia - a atualização do meu programa para uma versão mais recente. Mas o argumento que usa é que é extraordinariamente curioso.

Não me diz que a nova versão tem novas funcionalidades fantásticas ou que é mais rápida, que é mais segura contra vírus e esquemas fraudulentos, não, nada disso! Eu devo atualizar a minha versão porque, ouçam bem: cem milhões de pessoas já o fizeram! Uau! Se cem milhões já o fizeram então é porque eu tenho mesmo de o fazer. Nem sei o que devo andarei a perder!




Mas bateram à porta errada, se cem milhões se atirarem a um poço eu vou preferir não o fazer. E no que se refere a novas versões de programas, por norma as novas versões são feitas à pressa, cheias de erros, e quem, na ânsia de se atualizar, a única coisa que vai fazer, é servir de controlo de qualidade da empresa, para corrigir o que de mal foi feito. Atualizar o Windows? Não obrigado. 

domingo, 1 de novembro de 2015

Nunca me deixes

Não sei porquê, mas apesar de me considerar uma pessoa relativamente bem informada - mesmo vivendo numa caverna sem televisão - há muito que deixei de saber que filmes estão em cartaz, que grandes filmes têm saído e que se calhar teria gostado, ou que filmes toda a gente anda a ver e que certamente eu não iria, a menos me convidassem, e nunca se recusa a simpatia de um convite para ir ao cinema. 

Talvez também porque, por diferentes motivos, as pessoas estejam a ir menos ao cinema, e se não vão não se comenta tanto, até porque agora se podem ver os filmes de outras formas, no conforto de casa, e de forma bem mais económica, revendo quantas vezes se quiser, e sem ser preciso recorrer aos antigos video-clubes, em que se tinha de devolver o filme dentro de determinado tempo. 

E talvez, digo eu, mas talvez porque se consome agora muito mais filmes, uns atrás dos outros, as pessoas tenham deixado de comentar, de mostrar essa emoção aos outros, de terem visto um grande filme, e quem diz um grande filme, diz um grande disco. Ninguém comenta que viu no dia anterior um grande filme em casa. Isso não é um acontecimento. Seria um acontecimento se tivesse ido ao cinema, e ao contar, os outros saberiam que a pessoa tinha ido ao cinema. Agora em casa? Qual a graça disso? E porque hoje em dia tudo se descarrega rapidamente, e atrás de um filme ou de um grande disco, vem logo outro e outro, nessa ânsia desenfreada de consumir. Mas conhecer, chega-se a conhecer e valorizar verdadeiramente alguma coisa? Eu acho que não. 

E depois, hoje em dia ninguém vai ao cinema, até porque o cinema não está propriamente barato. Chegamos ao cúmulo de ter agora peças de teatro, com atores de carne e osso em palco, mais baratas que ir ver uma projeção de um filme numa sala de cinema. E ainda por cima no cinema criou-se o hábito - consumista pois está claro - de assistir ao filme comendo pipocas e bebendo refrigerantes, o que logicamente, irá inflacionar o gasto ainda mais. Em dez anos anos, um bilhete de cinema mais do que duplicou de preço, mas os salários, esse não duplicaram bem pelo contrário.




E assim por mero acaso, passava agora os olhos pela capa de um filme, que só saiu há cinco anos, mas que me passou completamente ao lado. Acho que foi o título que me chamou agora a atenção. Talvez porque eu mesmo esteja a viver tempos, não de olhar para o presente e o futuro, mas de olhar para trás e recordar o que tem sido a minha vida. E porque relembre que, por mais esforço que tenha sempre feito em tentar manter junto de mim as pessoas com quem criei laços fortes e de quem sempre quis sempre ser cuidador, mas elas sempre me tenham fugido como areia seca por entre os dedos. 


Um dia destes vejo este filme. Mas não tem de ser já hoje ou amanhã, ou esta semana ou na seguinte. Não temos de viver nessa urgência de querer saciar todas as vontades no minuto seguinte. Pelo menos a mim basta-me saber que há por aí um filme que tenho interesse em ver, e sei que um dia destes vou ver: "Nunca me deixes (Never let me go)"