segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

Cancro: Quando eu?

Muitas vezes acontecem-nos coisas negativas, e tão pouco prováveis, que na revolta nos perguntamos "porquê eu"? No que ao cancro diz respeito, trata-se agora só de uma espera. Esperar que nos calhe a nós. Fumadores, não fumadores, gente doente e gente saudável, todos estamos a morrer de cancro. No entanto grande parte das pessoas, incluindo os políticos que têm o poder de mudar muitas coisas, andam todos, a fazer de conta que o cancro, ainda é uma coisa que só acontece aos outros.

São pessoas amigas que nos contam que foram a um funeral de um amigo ou familiar que morreu de cancro; é uma colega de trabalho que nos conta o drama que viveu no processo de quimioterapia; são familiares de quem nada sabíamos há muito que morrem de cancro;  são figuras públicas que morrem de "doença prolongada"; são funcionários públicos que morrem por estar a trabalhar debaixo de telhas com amianto e o governo nada faz, porque não são eles que lá têm de trabalhar; é uma pessoa, sem cabelo que se senta ao nosso lado no comboio, ou passa por nós no centro comercial; e são pessoas que vivem connosco na mesma casa que nós.



É um vizinho, boa pessoa, que aparentava andar cheio de saúde, que se sabe que tem cancro, ao que parece não operável, está por casa sem trabalhar e comenta-se que já não quer visitas. 

Não é fácil lidar com tudo isto. Não é fácil colocar-me na pele dele. Não é fácil, de um momento para outro, sabermos que temos pouco tempo de vida, e que o fim não será dos mais fáceis.

Todos estamos a morrer, é um facto, mas existem muitas formas diferentes de morrer. Nenhum de nós sabe como será a sua morte, mas certamente se nos fosse dada a possibilidade de escolha, ninguém escolheria morrer de cancro. Não é uma forma digna nem misericordiosa. A morte não chega até nós e diz-nos "vem comigo, chegou a tua hora". Não, diz-nos "vais morrer brevemente, mas antes, ficas aí a definhar até não aguentares mais. Depois sim venho-te buscar". 

Mais do que qualquer pessoa, eu tenho uma grande probabilidade de vir a ter - se não tiver já - um cancro. A ciência da medicina ocidental, está a medicar-me, e chegaram à conclusão que, ponderando os pós e os contras, é melhor eu poder morrer de cancro, mas ir tendo alguma qualidade de vida. E isso a mim não me deixa muito tranquilo sinceramente. 

Ponderando bem, começo a perder o medo de andar de avião.


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