segunda-feira, 7 de abril de 2014

Coisas da Ex

Quem já passou por uma relação de muitos anos, sabe que, quando as coisas acabam, reunimos uma série de objetos que nos liga à outra pessoa, pois durante esse tempo, passaram muitos aniversários, nossos e da data em que se começou, sem contar que, muitas vezes, até recebemos ofertas, sem que seja precisa uma data especial. 

Esta semana andava a arrumar a casa, e dou de caras com um saco que já tinha posto em cima de um móvel há uns tempos, e quando olhei para ele de novo, já nem sabia do que se tratava. Um saco plástico, com uns chinelos azuis, e roupa de trazer por casa da outra senhora. 

A relação acabou, mas nunca me senti impelido, a reunir todas as coisas e a desfazer-me delas. Há até quem decida queimar tudo, como se num passe de mágica, todo aquele passado com aquela pessoa desaparecesse, e tudo o fogo exorcizasse. Mas não, pode-mo-nos livrar de tudo, de todas as tralhas, prendas, cartas e fotografias, que nunca apagaremos da nossa vida aquele longo período de tempo. Por vezes, era bom que fosse assim tudo tão simples, mas não é. Teremos sempre de viver, para o bem e para o mal, com o sucesso ou o fracasso das nossas escolhas, e muitas vezes, o medo do insucesso, assombrar-nos-à várias vezes de novo no futuro, e isso vale para tudo na vida, e não só nas relações com os outros.

Via Pinterest
Claro que reuni as tralhas todas num caixote (acho que foram dois), e arrumei-as bem arrumadinhas, porque um gaijo não quer estar sempre a tropeçar em coisas do passado. Mas muitas outras coisas banais, como a roupa por exemplo, é-me completamente indiferente, e nem sequer me lembro disso, é algo automático. Visto uma peça que me foi oferecida, com a mesma naturalidade, com que visto uma peça comprada por mim. É roupa, gosto das peças pelo bem que (acho) que me ficam, e não vou passar a odiá-las de um dia para o outro, só porque passei a ver a pessoa que ma deu com outros olhos.

Não sei se há dados sobre isto, mas é muito provável que a malta da psicologia, que se dedica a estudar estas coisas, saberá se existem padrões de comportamento. Não sei se serão mais os homens ou as mulheres que guardam ou se desfazem das coisas, ou se nem sequer tem nada a ver com sexos, e seja simplesmente uma questão de personalidade, de se ser mais ou menos apegado às coisas, de se gostar ou não de acumular tralhas. 

É provável que um dia me desfaça de todas aquelas coisas pessoais... mas não estou certo disso. De qualquer das formas, tê-las hoje, não significa, que mantenho, secretamente, a esperança, de um dia voltar ao local onde fui feliz. Não, pelo contrário, desse passado quero, e felizmente tenho tido distância. Acho que tenho as gavetas do meu passado muito bem arrumadinhas, embora isso não signifique que me tenha esquecido dele. E ainda bem que não esqueci, pois é principalmente com os fracassos que podemos aprender alguma coisa, para não voltarmos a cometer os mesmos erros. 

Ainda assim peguei naquele saco, com os chinelos azuis e a roupa de trazer por casa, e resolvi mandá-los para o lixo. Já cheiravam demasiado a mofo. 

6 comentários:

  1. É perfeitamente natural se guardar objectos de outra pessoa...isso acontece quando se tem uma relação longa.
    Mas acredito também no luto! Que é quando conseguimos encontrar uma outra pessoa e refazer a vida.
    Ou então estar sozinho mas feliz.
    E axo que nesse momento olhamos para os objectos e pensamos..para quê guardar coisas do passado?! Se eu tenho as lembranças na minha cabeça?!
    Mas axo que não tem a ver c/ o ser homem ou mulher.
    Mas sim c/ a personalidade.

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    1. Atenção que o luto não é isso. O luto não é encontrar outra pessoa. O luto é o período de tempo que uma pessoa leva a ultrapassar uma separação, seja numa relação ou a perda física de alguém por morte. Quando as pessoas se apoiam numa outra pessoa, mas ainda não fizeram verdadeiramente o luto, isso por norma vai dar merda, porque a pessoa se deixou levar unicamente por um sentimento de carência. Um dia acorda, e sabe que essa relação não é real.
      Ser feliz implica sempre ser feliz sozinho. Só nós podemos viver a nossa vida, e ninguém a vai viver por nós, muito menos ser feliz por nós! A felicidade nada tem nada a ver com estar numa relação ou não.
      E porquê a pessoa só s desfazer das coisas de uma relação passada a partir do momento que encontra outra pessoa? Por essas coisas ainda incomodam? Ou por receio que sejam descobertas pela outra pessoa e que se crie aí um conflito? Fazer o luto implica ter as situações muito bem resolvidas na cabeça, as pessoas podem falar abertamente sobre o seu passado, muitas vezes tendo até a capacidade de rir de si mesmos, e quando o luto foi bem feito, olhar para essas coisas em nada nos afetará, se não relembrar um passado longínquo, da mesma forma que o fazemos quando vemos fotografias nossas de criança.

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    2. Exato. Não me expliquei bem... Só temos a certeza que fizemos o luto quando o que é passado não nos afeta. Encontrando ou não outra pessoa. Ser feliz só nos cabe a nós!
      O guardar objetos vai de cada um, e também depende do quê!!!
      Se isso causar desconforto à outra o ideal é guardar num local bem resguardado. Porque falar do passado muitas vezes não é bom.

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    3. Nós somos sempre fruto de um passado, de situações vividas e experiências de vida acumuladas. Sim, acho que compete a cada pessoa decidir o que acha melhor. Assim como eu não deito fora as minhas coisas de criança, não sei por que teria de o fazer, deitando coisas fora de um período de dez anos da minha vida, em que também fui muito feliz.
      E essas coisas não têm de incomodar ninguém, todos nós temos um passado. Era o que me havia de faltar, aparecer-me agora uma gaija a dizer o que eu deveria deitar ou não fora! Eu acho que falar é sempre bom e terapêutico. Não falar de todo, também não me parece muito bom sinal. Parece que se tem alguma coisa a esconder.

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  2. eu sou de uma raça de namoradas "descomplicada". Quero lá bem saber do passado do Ricardo, ou do meu próprio... passado é passado. já lá foi. não volta mais... não em adianta ter ciúmes do passado ou de quem já lá esteve... o que me interessa é o presente e o futuro. passado todos tivemos, todos temos um ou outro esqueleto no armário metido lá dentro por uma relação anterior. prefiro não me concentrar no doí doí que trouxe da ultima "ralação" e focar-me em viver o presente e planear o futuro.
    Um dos meus melhores amigo é meu ex-namorado... e quê?!? conheci-o quase 10 anos antes de termos namorado...e entretanto já passaram quase mais outros 10. O meu margarido também fala bastantes vezes com duas das ex dele na boa. :) sem stress. de que me serve stressar? de nada. deixa-me com rugas.
    Sobre as coisa que vamos adquirindo ao longo dos anos em conjunto, algumas não me apetece ter em exposição como fotos ou coisas com significados particularmente fortes (pk o passado ficou lá para trás e aquelas coisas já não podem ter os mesmos valores associados que tinham quando a relação existia), no entanto grande parte das cenas adquiridas em conjunto ou durante o período da relação são-me completamente inócuas. passam-me ao lado. Os objetos pessoais do ex, acabei sempre por devolver, por achar que deitar fora era estúpido pk estava a produzir lixo e a desperdiçar recursos €. isso e não está na minha natureza deitar fora coisas "de má", só para me vingar (não quero dizer com isto que é o que fizeste). Dificilmente seria uma daquelas mulheres que destrói a roupa do marido traidor ou que lhe manda as camisas pela varanda... no caso de ficar com as coisas lá empatadas sem previsão para me ver livre delas, ou mandava por amigos, ou meti-a numa caixa e mandava pa garagem até à próxima arrumação de garagem em que iria certamente para o lixo (desta vez lixo reciclado:) )

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    1. É verdade, e como disse, se falamos das coisas e até nos conseguimos rir delas, é porque as coisas foram superadas. Mas há pessoas muito dramáticas, e gostam de atribuir significados às coisas mais insignificantes. Eu felizmente não tive nenhum stress com isso (nem sei se teria) porque não mais voltei aos namoros com “contrato sem termo certo”, tenho-me limitado unicamente a “trabalhos temporários”!

      Ex que ficam amigos, isso é coisa que desconheço, mas ainda bem que as pessoas têm essa capacidade. Mas acho que também depende muitos dos motivos da separação, no meu caso duvido que alguém conseguisse agir normalmente depois do que aconteceu, e “as coisas acabaram mas vamos lá continuar ser os melhores amigos para sempre”.

      No meu caso todas as coisas do outro foram devolvidas, eu por exemplo recebi um enorme caixote com livros e CD e outras coisas. Agora é lógico que fotografias, e todas aquelas coisinhas “românticas”, tudo isso, ficou no tal caixote, bem arrumado, porque apesar das coisas se ultrapassarem, também não quero estar sempre a remexer no passado. E faço-o por mim, não por nenhuma eventual futura namorada, que fosse ficar chateada de encontrar alguma coisa.

      Também não sou nada assim, de me vingar nas coisas, nem de ir às fotografias, e cortar a cabeça da pessoa! Isso não faz sentido nenhum, os objectos não têm culpa nenhuma dos erros das pessoas.

      E isto que acabo de dizer, tanto vale para mim, como vale para uma futura eventual namorada. Quero lá saber se guarda as cenas todas do ex, se deitou fora, se pinou com centenas de gaijos, é coisa que não me interessa. Interessa é que, quem estiver comigo, goste de mim pelo que eu sou, o resto é passado. Mas não duvides que, se calhar, para a maioria das pessoas, as coisas não são assim tão "descomplicadas"!

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