domingo, 5 de janeiro de 2014

Perder a noção do ridículo

Estávamos nos meados dos anos noventa e eu venerava uma banda portuguesa de heavy metal. Sentia-me até orgulhoso da forma como se conseguiram impor no cenário internacional. Na altura, a grande generalidade dos portugueses, nem sequer imaginava que tal banda, rivalizava já com Madredeus, pelo trono de banda portuguesa mais conhecida além fronteiras.

Entretanto chega o terceiro álbum e trás com ele a desilusão. Quebrou-se o encanto que não mais será recuperado. Há muitos fãs que, façam o que as bandas fizerem, manter-se-ão sempre fieis ad eternum, mas não é de todo o meu caso. Eu sou fiel sim, mas unicamente aos meus ouvidos, só. Assumidamente a banda quis experimentar outras sonoridades, mais acessíveis, é totalmente legítimo, provavelmente para chegar ainda a mais pessoas, mas este é sempre um processo arriscado que provoca sempre vítimas.

A partir daí continuei a gostar de Moonspell, mas musicalmente foi como se naquele momento tivessem morrido, e na minha mente só existissem aqueles dois primeiros álbuns, Wolfheart e Irreligious, que continuaram a passar no leitor de cassetes portátil que usava na altura, e mesmo hoje, continuam a passar no leitor de CD do carro por exemplo.


Apesar deste corte radical com a banda, não deixei de acompanhar o que iam fazendo, pois como é lógico ia conversando com amigos, lia a imprensa da especialidade, e depois com o acesso à internet andei pelos fóruns, ou seja,  fui sempre acompanhando o que a banda ia fazendo, ainda que agora de forma mais desprendida. Não foi por me terem desiludido, que deixei de manifestar, por exemplo, o meu apoio quando em meados da década passada decidiram aceitar um convite para fazerem uma versão de uma das suas músicas para o programa Contra-informação como, da mesma forma, achei positiva a presença no programa do Gato Fedorento.

Creio que na altura muitas vozes se opuseram, não foi o meu caso. Acho que quanto mais se desmistificar, que as pessoas que ouvem sons mais pesados são pessoas exatamente iguais a todas as outras melhor. Não acho que a cena metaleira tenha de viver escondida, como se estivesse na clandestinidade. Pelo contrário, deve-se mostrar à sociedade, e nesse particular acho que estiveram bem.

Mas entretanto, não sei o que se tem passado com a banda, mas, apesar da distância com que vou acompanhando os acontecimentos, parece-me grave terem perdido claramente toda a noção do ridículo. Não sei se é um problema do excesso de protagonismo que o vocalista claramente tem, e neste caso, vocalista e banda parece quase ser tudo a mesma a coisa. Não sei, mas quem vê de fora, parece que sim.

Eu nada tenho a obstar que um vocalista de uma banda de heavy metal entre num projeto musical com uma sonoridade completamente diferente, conjuntamente com diferentes músicos, como o Fernando Ribeiro fez ao entrar no projeto Amália Hoje, certamente até com o aval dos restantes membros de Moonspell. Mas começa-me a fazer um pouco de confusão - não sei se aos atuais fãs de Moonspell faz ou não - mas confesso a mim me começou a causar algum espanto, quando de repente, já não sabia muito se esta banda que eu idolatrava nos anos noventa, se tinha transformado nos Moongift ou nos Giftspell. E eu sinto-me muito à vontade nesta crítica, pois apesar de não ser propriamente fã de The Gift, nem desgosto da sonoridade, mas principalmente sempre admirei a forma empenhada, como lutaram pelo seu sonho quando as portas das editoras se fecharam, decidindo avançar pelos seus próprios meios.

Mas uma coisa são os The Gift outra completamente são os Moonspell. Acho que não é por duas pessoas iniciarem uma relação, que de imediato começaram a misturar os assuntos profissionais com os pessoais. O que não faltam para aí aliás, são exemplos de bandas que acabaram por causa das relações dos músicos. Aponto só um exemplo: Beatles! E não consigo compreender como é que estes dois vocalistas de duas bandas tão diferentes, não conseguiram separar as coisas, pois parece-me que foi muito pouco inteligente não o terem feito. Vamos agora supor que os restantes elementos de Moonspell também casavam com senhoras que até cantavam (e nem faço ideia se até não é o caso!) Iriam os Moonspell transformar-se numa banda de casaizinhos ao melhor estilo de ABBA? (outro exemplo de outra banda que acabou pelo mesmo motivo!)

Depois, há pouco mais de uma semana, creio até que foi na véspera de Natal, qual não é o meu espanto, quando passo os olhos pela televisão, que estava ligada para as moscas, e vejo de relance o Fernando Ribeiro no Preço Certo, programa de grande audiência de reformados, que se deslocam ao programa para oferecer enchidos e outras iguarias ao Mendes.

Não sei, sinceramente, começo a temer o pior, e não é com alegria que o constato. Um dia destes ainda ouço dizer que os Moonspell fazem parte do cartaz de um desses programas das festinhas das tarde de domingo da TVI, em que vão lá fazer playback para os parolos verem. Ou então pior, venho a saber que o Fernando Ribeiro e a Sónia Tavares entraram num qualquer Big Brother. Famosos pois claro.

P.S. Este texto foi escrito ao som de Wolfheart, primeiro álbum de Moonspell.

3 comentários:

  1. E tu esqueceste-te foi de falar das batatas!!!
    Sem querer fazer publicidade à operadora de telemóveis, isto deve ter sido o momento alto das carreiras destes dois senhores

    http://youtu.be/aHkWhMvNotg

    Eu que nem vejo televisão imagina lá o susto que apanhei quando um dia olho para lá e está Fernando Ribeiro a descascar batatas!!! Isto depois de já o ter visto numa cantoria semi-desafinada com o Roberto Leal. Foi o meu trauma televisivo do ano!

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  2. Pois, eu por acaso, poucas vezes vi esse anúncio, apesar de ter ouvido na rádio esses alguns desses "duetos improváveis" dessa operadora do tio dos contraplacados! Mas segundo se diz a publicidade dá muito dinheiro, não sei se foi o caso, mas depois lá está, compete a cada um decidir se se vende ou não, e a que marcas não se importa de estar associado. E depois também é sempre publicidade para a própria banda, no caso, sendo uma de metal, sonoridade supostamente anti-sistema", a publicidade às vezes pode funcionar ao contrário.

    E alguém a descascar batatas, no fundo, é o genro ideal de qualquer mãe!

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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